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A morte, o achincalhe e a desumanidade

Domingo morreu Zé Eduardo.

Perdeu a luta, assim como Marcelo Déda, para a feroz doença. Foi- se o homem, o filho, o irmão, o pai. O vizinho, o colega de trabalho, de lutas. A pessoa que uma vez (ou várias), agiu com gentileza, educação e respeito, cedendo um lugar, franqueando passagem ou a vez em um atendimento, em favor do próximo, por entender necessário.

Certamente ajudou alguém em um momento difícil e, em outra ocasião, como chefe, soube acrescentar uma pitada de humanidade em uma tomada de decisão que haveria de influenciar a vida de alguém e que o pragmatismo não parecia ser o melhor conselheiro.

Enfim, era um ser humano, independente de sua filiação ideológico-política.

Em linhas gerais, na evolução das teorias Éticas, Habermas (salvo engano) nos mostra a idéia da Ética construída pela própria sociedade, que assim, firma compromisso de respeitá-la, tendoparticipado da sua elaboração. É por isso, que em nossa sociedade, fundada no respeito à dignidade da pessoa humana e seus direitos, não existe espaço para o achincalhe. Podemos ir mais longe, afinal, nem mesmo os achincalhadores, no reduto dos seus lares e tratando de assuntos pessoais, defendem-no.

Apesar de não ser o que vemos, ultimamente, na prática. Ora, em diversos desses protestos que vimos nos últimos meses, algumas pessoas “lamentaram” a ineficiência da doença, que não “levou” determinadas figuras da política. (Em Sergipe não foi diferente, na verdade foi pior, pois viu-se o cinismo elevado aos últimos graus.)

Vejam bem, é a manifestação pura do odiar o outro, sem absolutamente nenhum freio moral, algo descabido quando nos proclamamos civilizados e mais avançados/dotados que os animais.

Pois, o mais selvagem dos animais irracionais, por mais feroz que seja, não age por ódio, mas por defesa, fome ou outra necessidade de sobrevivência. Um predador, durante a saciedade de uma refeição, tende a ignorar a mais “deliciosa” presa.

Infelizmente, mais uma vez, nesse domingo, vimos – e estamos vendo – puras manifestações de ódio e desumanidade, no caso, contra a pessoa de Zé Eduardo, após sua morte. O festival de ódio e irracionalidade, lamentavelmente, era algo esperado por qualquer pessoa atenta à escalada medieval-fascista que ocorre nesses dias. Vejam aqui, nos comentários, algumas dessas manifestações.

A comemoração ao “menos um”, vem a ser a mais amena – como se comemorar uma morte fosse algo racional e evoluído – frente o “chamamento ao câncer” para fazer “a função de limpar o país” ou, mais recente, a “bronca” dirigida ao Hospital Sírio Libanês, por estar, ele, “atrapalhando” o trabalho do câncer.

É triste essa constatação de algo parece ser – ao menos nas atitudes de algumas muitas pessoas – a opção pelo fim do pacto civilizatório. Apesar de que a visão que move essa parcela de pessoas, não chega perto (“nem de longe”) de preocupação sincera com o conjunto da sociedade.

O que se vê, ante a esterilidade de idéias e o caráter inócuo ou raso da maioria dos argumentos, que confrontados são reduzidos a pó, são ataques e ofensas pessoais, que fogem – tal qual o diaba foge da cruz – do assunto em questão, passando à tentativa de desqualificação da contraparte, para que, assim, condene-se o argumento sem sequer tratar dele. É a marca, complementar à primeira idéia, que por aqui a civilização democrática, livre, justa e plural, está se esvaindo rumo a um estado policial, de “pensamento”(?) único e imutável, que vale por sí só, sendo criminoso, questioná-lo.

Bem vindos – escolham – à idade média ou ao nazismo. Nessa linha de pensamento, qualquer que esteja do outro lado, merece a morte, tal qual se fazia na Inquisição. São os atuais Torquemadas.

É disso que decorre o desrespeito ao colega humano Zé Eduardo, que nunca conheci, nem vi de perto, mas que sinto-me na obrigação moral (e cidadã) de respeitar e lamentar o seu sofrimento e o da sua família.

Ao mesmo tempo, lamento a desintegração da civilidade dessas pessoas que não conseguem ter o menor respeito pela dor das outras, nem a mínima dignidade de entender o outro – que não lhe divide as mesmas idéias – como ser humano.

Esses, como cidadãos, já morreram e não sabem. Pois se pudessem, atirariam “na cara” pra “estragar o enterro”.

Segue Zé Eduardo, tu que fostes covardemente chamado de forasteiro, segue na certeza que cada um tem o lugar que merece. Não o que quer ou o que compra, mas o que merece. Como diz Adiberto, certamente a terra não lhe será pesada. E a justiça da história lhe será favorável.

Eduardo Rocha é Capitão PM Bacharel em Segurança Pública (textos anteriores disponíveis em omologato.wordpress.com)

 

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