Um dos insetos comestíveis mais comuns no Nordeste é a formiga tanajura. A iguaria é típica das áreas rurais, e cai ao vento em períodos chuvosos. Para muitos, tem gosto que lembra o camarão. É servida torrada, também é ingrediente de farofa e pode ser consumida como se fosse amendoim.
A tanajura é a fêmea da formiga saúva, ou de roça, do gênero Atta. Elas dão o sinal de inicio do inverno. Saem após as primeiras chuvas para se reproduzirem e vão para o chamado “voo nupcial”. Acasalam no ar, depois caem e vão formar novos formigueiros.
Ao deixarem seus ninhos, saindo por entre bananeiras e até de frestas da calçada, as tanajuras são apanhadas por um bando de crianças e terminam com as bundinhas torradas em óleo ou banha de porco. Uma delícia! Em Sergipe, o consumo de tanajura na gordura foi drasticamente reduzido depois de alguns incidentes com defensivos agrícolas colocados nos formigueiros. Em Pernambuco e na Paraíba a iguaria é vendida nas feiras livres, sendo muito apreciada por turistas.
Um relatório de 200 páginas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, conhecida pelas iniciais em inglês FAO, sugere o consumo de insetos na alimentação humana, de animais e também na pecuária. O elevado teor de proteínas e minerais, bem como a proteção ao meio ambiente estão entre os benefícios.
O biólogo Altielys Magnago explicou que estão nesse grupo as formigas (tanajuras), gafanhotos, mariposas, o besouro do coqueiro, abelhas, tenébrios, bicho-da-seda, dentre outros.De acordo com ele, os insetos são ‘parentes’ dos camarões e das lagostas, se comparados na escala de proximidade das espécimes no Reino Animal. Ele indicou que, além da Atta sexdens e da Atta cephalotes, outras formigas bastante consumidas no Basil são: Atta laevigata, Atta bisphaerica, Atta opacipes e Atta capiguara.
“Há relatos de mais de 1.400 espécies de insetos que são consumidos na alimentação, e destes, os campeões são os besouros. De cada 10 animais, oito são insetos, e destes, cinco são besouros. Apenas o exoesqueleto dos insetos não é aproveitado pela digestão humana, mas todo o resto é bastante nutritivo”, revela Magnago.
Segundo ele, quatro larvas de mariposa têm aproximadamente o mesmo teor de proteína que 250 gramas de Filé Mignon. O teor protéico da formiga cortadeira tem 45% de proteína contra 23% do frango e 20% do boi se comparados os três nas mesmas proporções. Insetos também são ricos em gordura insaturada, minerais e vitaminas. “A quantidade desses nutrientes varia em função da dieta do inseto, se é à base de raízes, folhas, troncos ou seiva”, comentou o biólogo.
Preparo dos pratos
A tanajura pode ser preparada de várias formas. A mais comum, é torrar a formiga com óleo ou manteiga e sal, como se fosse amendoim. Outra maneira é separando as pernas e a cabeça, utilizar o abdômen, refogado com alho, cebola, acrescentar farinha de mandioca e levar tudo ao fogo até formar uma paçoca ou farofa. Comer a formiga de abdômen avantajado é algo tão comum que o Serviço Social do Comércio de São Paulo (Sesc-SP) incluiu a degustação de insetos no curso que oferece sobre sabores asiáticos.
[supsystic-gallery id=26 position=center]
Tanajura na poesia
O Político, médico, pintor, tradutor, biógrafo, ensaísta, romancista e poeta alagoano Jorge Mateus de Lima (1893-1953) faz um alerta: Zefa, chegou o “inverno”, muita coisa vai acontecer, desde que Jesus Cristo permita.
INVERNO
Jorge de Lima
Zefa, chegou o inverno!
Formigas de asas e tanajuras!
Chegou o inverno!
Lama e mais lama
chuva e mais chuva, Zefa!
Vai nascer tudo, Zefa,
Vai haver verde,
verde do bom,
verde nos galhos,
verde na terra,
verde em ti, Zefa,
que eu quero bem!
Formigas de asas e tanajuras!
O rio cheio,
barrigas cheias,
mulheres cheias, Zefa!
Águas nas locas,
pitus gostosos,
carás, cabojés,
e chuva e mais chuva!
Vai nascer tudo
milho, feijão,
até de novo
teu coração, Zefa!
Formigas de asas e tanajuras!
Chegou o inverno!
Chuva e mais chuva!
Vai casar, tudo,
moça e viúva!
Chegou o inverno
Covas bem fundas
pra enterrar cana:
cana caiana e flor de Cuba!
Terra tão mole
que as enxadas
nelas se afundam
com olho e tudo!
Leite e mais leite
pra requeijões!
Cargas de imbu!
Em junho o milho,
milho e canjica
pra São João!
E tudo isto, Zefa…
E mais gostoso
que tudo isso:
noites de frio,
lá fora o escuro,
lá fora a chuva,
trovão, corisco,
terras caídas,
córgos gemendo,
os caborés gemendo,
os caborés piando, Zefa!
Os cururus cantando, Zefa!
Dentro da nossa
casa de palha:
carne de sol
chia nas brasas,
farinha d’água,
café, cigarro,
cachaça, Zefa…
…rede gemendo…
Tempo gostoso!
Vai nascer tudo!
Lá fora a chuva,
chuva e mais chuva,
trovão, corisco,
terras caídas
e vento e chuva,
chuva e mais chuva!
Mas tudo isso, Zefa,
vamos dizer,
só com os poderes
de Jesus Cristo!
Fonte: site Poemas & Canções
Fonte: Espaço Ecológico. (Créditos/calungacprderosa.blogspot.com – mangiachetefabene.wordpress.com – come-se.blogspot.com – catando-vento.blogspot.com)