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Lú Spineli, dançando a vida

Lú Spineli, a bailarina, a ativista sempre disposta a envolver-se nas boas causas, era fabulosamente humana. Nos excessos tempestuosos de um gênio forte, na mansidão plácida da amiga solidária que sempre se acercava, solícita, nos momentos mais difíceis, fossem eles de pessoas conhecidas, ou mesmo de estranhos. Para ela não havia estranhos, havia seres humanos.

Regina Lúcia Spineli, baiana, bailarina, que chegou a Aracaju quando ser hippie era uma forma de externar a ânsia de liberdade e desconstrução de preconceitos, foi aqui a precursora do balé clássico. Seu Studio Danças, que chegou aos quarenta anos, foi pioneiro e sempre paradigma de competência. Era, também, a ativista cultural sempre presente, sempre contagiada pelo entusiasmo de criar e fazer.

Lú Spineli literalmente dançou a vida. Nos palcos, na realidade do dia a dia. E a sua coreografia variava, ia de turbulenta inconformidade com todas as formas de hipocrisia e das virtudes fingidas, ao sacrifício pessoal para manter vivo o espírito de solidariedade, a crença que tinha na força criadora da fraternidade humana.

Lú Spineli era a alegria contagiante, o riso permanente para a vida, e também antídoto eficaz para afastar tristezas, adversidades e mágoas.

O último ato do seu balé foi o sorriso de tranqüila aceitação que deixou na face, diante da soturna senhora que lhe apareceu de repente, com o seu alfanje, e ela lhe estendeu os braços, como uma sílfide sonâmbula, no instante derradeiro, em que era preciso não perder a elegância dos movimentos, a liturgia dos gestos. Até nisso foi bailarina.

No velório e no cemitério, suas ex-alunas Janaina Veloso, Julieta Menezes e Maíra Magno encenaram o balé suave da despedida, ao som de Coração de Estudante e What a Wonderful World.

Com a ausência da bailarina nos nossos palcos, será preciso agora lembrar do que ela fez. Lú Spineli é sinônimo da luta pela evolução cultural, social, da luta sempre atual e renovada contra todas as formas de preconceitos.

Aracaju precisa de uma praça, uma avenida, uma rua, uma instituição cultural que tenha o nome a ser sempre lembrado da ítalo-sergipana-baiana Lú Spineli, mulher cosmopolita, mulher avant-gard, mulher do seu tempo.

Por Luiz Eduardo Costa, jornalista, escritor e membro da Academia Sergipana de Letras. 

Texto publicado originalmente no Jornal do Dia  (Crédito/Facebook/Linha do Tempo/Mario Resende, em 7 de novembro de 2014)

 

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