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Uma notícia da era colonial: o massacre de soldados pelos índios de Sergipe

                                                                                                                                                                    Prof. Francisco José Alves

                                                                                                                                                        (Departamento de História UFS)

                                                                                                                                                                          fjalves@infonet.com.br

 

A historiografia sobre Sergipe Colonial tem esquecido um episódio significativo: um ardil dos índios de Sergipe contra os colonizadores. O episódio, conforme as evidências, ocorreu no governo de Manuel Teles Barreto (c.1520-1588), isto é, entre 1583 e 1587, cerca de 10 anos após o jesuíta Gaspar Lourenço ter visitado os índios de Sergipe.

O fato é relatado por três fontes côevas: João Álvares (1590), Francisco Soares (1590) e pelo Frei Vicente do Salvador (1627).

Noticiemos o episódio tomando por base as informações dadas pelos três testemunhos. Comecemos pela evidência mais antiga.

O padre João Álvares é a fonte mais velha a reportar o acontecido. O episódio é narrado numa carta do jesuíta datada de 1º de maio de 1590, escrita na Bahia.

Na missiva o padre diz que “ um gentio principal de cerige [Sergipe]”, isto é, um cacique, foi a Salvador convidar os jesuítas para fazerem missões no território sergipano. O padre chega a transcrever o discurso do líder indígena: “Dame padres que vão ensinar a minha gente o caminho de Deus”.

O jesuíta informa ainda que junto com os padres vieram cento e vinte tantos portugueses acompanhados de escravos e flecheiros.

Os índios de Sergipe não reagiram bem à chegada dos jesuítas acompanhados dos portugueses e seus flecheiros. Disseram que eles voltassem à Bahia e “que não haviam de ir com eles”, pois sabiam do destino que os esperava. Iriam somente com os jesuítas, pois eles não vinham com armas.

Apesar do entrevero inicial, uma pequena aldeia é construída. Todavia, alguns franceses que ali estavam matam os portugueses e seus flecheiros, poupando somente sete deles e os padres da Companhia.

O jesuíta Francisco Soares (1560-1597) é a segunda fonte a reportar o episódio da “traição” do gentio de Sergipe num tratado por ele denominado “De algumas coisas mais notáveis do Brasil”, datado de 1590.

Conforme o religioso, os índios de “Ceregipe” enviaram alguns seus mensageiros ao colégio Jesuíta de Salvador solicitando que lhes fosse enviado padres. Frente ao pedido, os jesuítas pedem autorização ao governador Manuel Teles Barreto para que eles realizassem a empreita. Concedida a autorização, os jesuítas partem para Sergipe.

A terceira fonte a noticiar o episódio da “traição” do gentio de Sergipe é o Frei Vicente do Salvador. Em sua História do Brasil, o autor faz um apanhado dos Governadores do Brasil desde o primeiro século da colonização. O episódio é focalizado no capítulo 17, livro 4º da obra.

No capítulo, o Franciscano repete a história de que os índios de Sergipe “queriam vir a esta Bahia a doutrina dos padres da companhia de jesus”. Isto é, queriam ser aldeados e cristianizados pelos jesuítas. Conforme o Frei, após a embaixada dos índios, o Governador submeteu o pleito aos vereadores de Salvador e “outras pessoas discretas”.

Na ocasião, o provedor-mor Cristóvão de Barros votou a favor do envio de jesuítas para Sergipe sem o acompanhamento de soldados. Segundo ele, para não dar oportunidade as traições “daqueles gentios”. Todavia, pela instância de terceiros, o governador fez acompanhar os jesuítas por 130 soldados brancos.

Chegados a Sergipe, jesuítas e soldados foram pacificamente recebidos. No entanto, alguns dias após a chegada, numa madrugada, os índios sergipanos trucidaram os soldados. No dizer do Frei “foram todos mortos como ovelhas ou cordeiros, sem ficarem vivos mais que alguns índios dos padres que trouxe a nova”.

Conforme os testemunhos, o evento desenrolou-se em 3 atos. Começa com o convite feito pelos índios sergipanos para que os jesuítas da Bahia venham a Sergipe catequizá-los.  No 2º ato, os jesuítas convencem o governador da Bahia a deixá-los ir fazer  a catequese acompanhados de alguns soldados. O evento tem fim com o massacre dos soldados que acompanhavam os jesuítas pelos índios no território de Sergipe.

Fontes utilizadas

Cópia de uma carta do Padre João Alvares Ao… Bahia, 1º de maio de 1590. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, nº 29, p. 255-266, 1899. [Trecho 256-7].

SOARES, Francisco. De algumas coisas mais notáveis do Brasil. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, t, 34, v. 148, p. 371-421, 1923. [Trecho 382-3].

SALVADOR, Vicente do. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1975, livro 4º, capítulo 17, p. 245-250.

 

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