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Sargento José Luiz, um comandante de tropa volante

Por Eduardo Marcelo Silva Rocha *

Quando conheci o Escritor Antônio Amaury Correia de Araújo, lembro que ele, ao falar sobre os policiais volantes, sempre me questionava acerca do Sgt José Luiz.

No caso, perguntava se eu o conhecera, etec. Confesso que à época pouco sabia a respeito do referido integrante da Polícia Militar do Estado de Sergipe.

Guardei aquele nome e, com o tempo, fui descobrindo coisas acerca do nosso então Sgt. Volante.

Soube que era destemido e conhecido por uma ação que vitimou alguns cangaceiros, em 1938.

Nascido em 1902 no Município de Propriá, era um de seis irmãos. Foi criado por sua genitora, após seu pai abandonar a família, quando o futuro militar tinha apenas 5 anos de idade.

Ao completar 20 anos, depois de lutar pela sobrevivência em Propriá, decide vir à capital, em busca de melhores oportunidades. Tal experiência não sendo exitosa, o faz retomar o trabalho deixado na Fazenda Jundiaí, em Propriá – naquele tempo, propriedade do afamado Hercílio de Britto.

E seria através deste, que retornaria a Aracaju poucos anos depois, quando sentou praça na então Força Pública do Estado de Sergipe, em 25 de Janeiro de 1926. Sua carreira na corporação, aos olhos de hoje, é bastante interessante, valendo um registro mais detalhado.

Em que pese ter “sentado praça” em 1926, somente 10 anos depois seria transferido para a reserva remunerada, em 6 de Agosto de 1936. Já em 1940, seria reincluído nos quadros da Polícia Militar de Sergipe, em 9 de julho daquele ano.

Voltando ao seu ingresso na corporação, ela se faz no contexto dos movimentos tenentistas em Sergipe. Como vimos, nosso militar ingressa formalmente na Força em 5/01/26 (Osmário Santos informa que sua apresentação deu-se no dia 04), poucos dias após o segundo levante ocorrido em Sergipe.

Nesse contexto, usando novamente Osmário Santos e seu livro “Oxente, essa é a nossa gente!”, observamos que Zé Luiz integra o corpo de tropa enviada de Propriá, para compor as forças legalistas contra Eurípedes, Soarino e Maynard Gomes. Assim, ao encontrarmos Zé Luiz em 1924 combatendo o Tenentismo como “paisano”, a mando de Chico Porfírio de Britto, podemos fazer inferências no sentido de que, ao reencontrarmos ele ingressando na Força Pública dois anos depois, já em 1926 – poucos dias após uma nova insurgência Tenentista – com carta de recomendação do filho de Chico Porfírio de Britto – Hercílio de Brito, o ingresso do militar na Força não apenas guarda relação com o Tenentismo, mas podendo até ter sido este o determinante.

Mas isto é assunto pra outro momento.

Zé Luiz iniciaria sua ascensão profissional durante a participação em outra tropa legalista, a que houve em 1932, para combater a insurreição paulista daquele ano. Na ocasião, receberia duas promoções por bravura.

De volta a Sergipe, voltaria às suas atividades e, em 35, tornar-se-ia comandante de tropa Volante de combate ao banditismo. Nesse período, um dos seus feitos mais relevantes deu-se poucos meses após a morte de Lampião, quando atacou o grupo liderado pelo cangaceiro Balão, no contexto das entregas, nas imediações de Carira. Seriam mortos os cangaceiros Amoroso, Bom de Veras e Cruzeiro.

Recorte de jornal sergipano de outubro de 1938

Após eventos destacados como estes, já nos anos 40 o Militar retoma uma rotina menos agitada. Apesar de não encontramos registros específicos de sua atuação no contexto das operações da Segunda Guerra Mundial, o fato de ter sido promovido já estando na reserva remunerada – equivalente à aposentadoria – sugerem que ele provavelmente foi beneficiário, pelo menos, da Lei Federal  nº 288 de 8/07/48, conhecida como Lei da Praia, bem como da Lei Estadual 940 de 29/05/1959, esta referente aos combatentes do Banditismo em Sergipe.

Zé Luiz seria alçado ao posto de 1º Sgt em 02 de Março de 1949, 2º Tenente em 23 de Novembro de 1951 e 1º Tenente em 24 de Janeiro de 1955. Ingressaria novamente na reserva remunerada em 1956, no dia 05 de Janeiro.

Por fim, alguns fatos interessantes e inéditos a respeito do Cel R/R José Luiz da Silva merecem ser anotados.

Revista comemorativa 100 anos do CBMSE 2020.

O primeiro é a sua passagem pelo Corpo de Bombeiros Municipal de Aracaju – hoje Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe – comissionado Major PM, na função de Comandante Geral. Não recordamos de memória, nenhum registro em obras sobre cangaço, tratando do referido Militar, que aponte essa passagem do propriaense pelos quadros do Corpo de Bombeiros.

Fotopintura do “Sgt” Zé Luiz, reprodução, similar à existente na galeria de Comandantes do CBMSE.

Mas considerando outra situação em aberto, a ausência de registro fotográfico de Zé Luiz, a galeria de comandantes do Corpo de Bombeiros terminou por nos oferecer uma imagem dele, que marca sua passagem na corporação.

O outro fato, que ainda carece de subsídios para explicá-lo definitivamente, é a sua ascensão ao notável, após estar aposentado. Em 1961, seria promovido, já estando na reserva remunerada, a Capitão em 04 de Dezembro. Tornaria a ser promovido, ainda, a Major – 26 de Dezembro de 1962 – e a Ten Cel em 23 de Março de 1964 e a Coronel em 2 de Junho de 1966.

Vejamos que o nosso Sargento recebe, já na reserva, 04 promoções enquanto Oficial PM, que o coloca no topo da carreira. Se olharmos anacronicamente, hoje, a Lei não permite promoção estando na reserva/reforma/aposentadoria. Portanto, é um elemento que chama bastante a atenção. Mas, como sabemos, estamos falando de décadas atrás, em outro momento, com outras normas. Fica valendo o registro, para que debrucemos sobre isto noutro momento.

Fotografia do “Sgt” Zé Luiz

E para finalizarmos com chave de ouro, vamos compartilhar uma imagens até então desconhecidas do Sgt Zé Luiz da Silva. Na fig. 3.  temos a fotopintura que consta na galeria de ex comdantes do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe. Na fig. 4, uma foto efetiva dele, que ao que parece ser, foi a utilizada como base à fotopintura anterior e que nos revela um Zé Luiz já amadurecido.

O detalhe que não conta na imagem, que ajudaria a localizá-la temporalmente, infelizmente foi suprimido: as insígnias militares. Nota-se a farda totalmente lisa. Caso houvessem as insignias e fosse identificada a patente, diante das datas das promoções, poderíamos propor um lapso temporal possível, considerando as datas de promoções.

O fato que nos interessa, é termos uma imagem do “Sgt Zé Luiz”, o qual somente conhecíamos através dos relatos. Eis o hômi.

* É tenente coronel da PM/SE e membro da Academia Brasileira de Letras e Artes do cangaço (eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br)

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