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Rezadeiras, as médicas de Deus

Os chás e banhos de ervas medicianais também são receitados

A casa de uma rezadeira é um ambiente de fé e de luz. Quem já procurou alguma para se benzer sabe do calor humano que se pode sentir ao estar diante de uma das figuras mais mágicas e singulares da cultura popular brasileira. O olhar, o acolhimento, as vibrações positivas, o sentimento de proteção, são coisas que enchem nossa alma de felicidade.

Numa casa simples, na esquina ali na frente, numa casa no morro ou na baixada, em uma cidadezinha de interior, em uma estrada na roça, em um lugar singular é sempre possível encontrar alguém com o dom da reza e da cura. São rezadeiras, curandeiras, benzedeiras, rezadores, pessoas que dedicam grande parte do seu tempo para simplesmente ajudar os outros.

Além da espinhela caída, os males mais comuns curados pelas rezadeias são o mal olhado, o vento virado, cobreiro, íngua, quebranto, torção muscular (destroncado), erisipela (vermelhão na perna, resultante de uma infecção causada pela bactéria estreptococos) e mal de simioto.

Os chás e banhos de ervas medicianais também são, muitas vezes, receitados. As ervas podem ser benzidas, o que torna sua eficácia ainda maior. Um emplasto com sumo folhas de saião com sal é tiro e queda para destroncado; também pode-se tomar o sumo da erva que age como antiinflamatório. O chá de rosa branca é ótimo para o útero e doenças relacionadas a essa parte do corpo da mulher. O chá de erva-doce é recomendado para espinhela caída e age, também, como calmante.

Outra conhecida rezadeira é a Madrinha Elisa. Elisa Gomes Berçaco, tem 76 anos, é descendente de uma índia com português. Com o ritual de rezar passando um galho de vassourinha embebido em água sobre a pessoa rezada. “Eu rezo desde os oito anos de idade. Aprendi a rezar com o meu pai. Eu rezo com galhinho de vassourinha, rezo com a mão”. A reza de mal olhado é bastante curiosa: quando a pessoa está com mal olhado, o galhinho verde fica murcho, de imediato. Caso contrário, ele se mantém viçoso”, explica.

Dona Chica

Procurando por outras rezadeiras, fui até a casa de Dona Chica – Francisca Paula Siqueira, de 82 anos. Devota de São Cosme e Damião, além de ter cumprido por 10 anos a promessa de dar doces e balas às crianças, há mais de 50 anos é “médica de Deus”, como se autodenomina. Segundo ela, o dom de rezar veio quando ainda era solteira. O dom veio quando uma senhora a procurou com o filho pequeno, que estava doente. A mulher pediu que ela rezasse a criança, ela rezou e a criança ficou curada. “Aquela criança foi um anjo que veio trazer o dom que eu pedi a Deus”, conta emocionada.

Conhecimento popular

A origem de muitas rezas pode ser puramente religiosa, ou fruto de um hibridismo de religiões, ou mesmo de um misto entre conhecimento popular com práticas religiosas. Em geral, as rezadeiras se dizem católicas, mas muitas recebem influência de crenças espíritas, como as das religiões afro-brasileiras e dos rituais indígenas. A cultura das rezadeiras, como é conhecida no Brasil, não se trata apenas de uma tradição nacional, claro.

A reza, a oração, o ato de impor as mãos (providas ou não de objetos sagrados como crucifixos, livros sagrados, ervas, entre uma imensa variedade de coisas) é comum em muitas culturas ocidentais e orientais. Hajam vista alguns rituais budistas, hindus; e mesmo entre evangélicos a cultura das orações por meio da imposição das mãos não deixou de existir. Embora a maioria deles – ex-católicos – reprovem a prática das rezas.

Mal de simioto

Um dos males que costuma afetar muitas crianças, é o mal de simioto, ou mal da tesourinha, que deixa a criança abatida, desnutrida, que a faz definhar de maneira à se assemelhar a um macaco; daí a palavra simioto. O nome “tesourinha” refere-se a uma marca que pode ser vista na base da espinha dorsal da criança, em forma de uma tesoura aberta.

Mesmo em tempos atuais, com os avanços da tecnologia e com os mais modernos recursos de que dispõe a medicina do século 21, a cultura das rezadeiras, ou benzedeiras, ainda resiste. Se em número menor nas grandes cidades brasileiras, no interior do país ainda há pessoas que rezam e acreditam na cura por meio da palavra.

Para a psicóloga Thereza Maria Galvão da Silva, as rezadeiras, ou curandeiras, desempenham, no imaginário popular, o papel de milagrosas, principalmente onde a questão religiosa é muito forte. “As pessoas vão às rezadeiras em busca de algo sobrenatural, acima delas, como se as curandeiras tivessem o poder mágico de curar”. E daí a cura pela crença, pela fé”, explica.

Texto de Ériton Berçaco, do portal Overmundo (Crédito/vozdeariabranca.com.br)

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