A Embrapa administra em Itaporanga D’Ajuda, a 20 km de Aracaju, a Reserva do Caju. Localizada à beira do rio Vaza-Barris, próximo à foz, a área constitui um rico e exuberante substrato da diversidade do litoral nordestino, com remanescentes da Mata Atlântica, manguezais, restingas, coqueirais, braços de marés e apicuns, sendo berço de diversas espécies animais.
No entorno da reserva estão comunidades tradicionais cujo sustento depende fortemente da integridade ambiental da região, como a Ilha Mem de Sá, onde 75 famílias vivem da pesca artesanal e da coleta de mariscos. Ocupando uma área de 763,37 hectares, a Reserva do Caju é considerada um berço de biodiversidade, onde vivem protegidas diversas espécies, das quais algumas vulneráveis e outras raramente avistadas.
No último inventário da fauna daquela reserva, realizado no final de 2014, a equipe de pesquisadores identificou 60 espécies de aves, 13 de pequenos mamíferos – inclusive marsupiais – e 17 espécies de morcegos, duas – Epitesicus brasiliensis e Molossops temmincki – nunca registradas em Sergipe. “São insetívoros de pequeno porte geralmente pouco frequentes em inventários, e cuja captura enriquece bastante o rol de espécies do estado”, avalia o biólogo da UFS Patrício Rocha, que coordenou a atividade.
Ele explica que essas espécies de morcegos, apesar de não estarem ameaçadas e serem amplamente distribuídas no Nordeste e outras regiões, são localmente raras e de hábitos noturnos, tornando difícil seu avistamento ou registro. “Elas ocorrem numa área muito vasta, mas não são numerosos em cada local. Por isso esse achado foi um tanto inesperado e surpreendente para nós”, explica.
Presença de marsupial
Os resultados do inventário mostram uma rica diversidade, além de ocorrências inéditas e relevantes. Os registros mais curiosos do trabalho revelaram a presença da cuíca, um dos menores marsupiais do mundo, os passarinhos figuinha-do-mangue (Conirostrum bicolor), endêmico da região, chorozinho de papo preto (Herpsilochus pectoralis), considerado vulnerável de acordo com o registro de espécies ameaçadas mantido pelo Ibama, e o cabeça-vermelha, também conhecido como galo campina e cardeal do Nordeste (Paroaria dominicana).
“O cabeça-vermelha é uma espécie endêmica da Caatinga, e sua captura nesta região indica que a reserva provavelmente esteja sendo utilizada como local de soltura de aves apreendidas”, explica o biólogo Juán Manoel Aguilar. Ele considera que a Reserva do Caju se constitui um importante espaço de conservação dessas espécies de aves. O gavião caramujeiro também está entre os habitantes da Reserva.
Foram dez dias de imersão da equipe na reserva, com 10 câmera traps (dispositivos com sensores de movimento e câmera de foto e vídeo para monitorar mamíferos de dia e de noite), quatro armadilhas de captura do tipo Sherman (em formato de gaiola, para pequenos animais) oito redes tipo ‘neblina’ de 12 mm para captura de aves e mais oito redes para morcegos, além de olhares atentos na observação por binóculos. As aves capturadas foram marcadas com anéis para identificação e rastreamento.
O trabalho de inventariação rendeu um rico acervo de imagens fotográficas e em vídeo. Todos os animais capturados nas armadilhas foram catalogados e fotografados para compor o banco de dados, e as camera traps registraram diversas espécies de mamíferos e aves em seus hábitos diurnos e noturnos, além do trânsito de moradores das comunidades da região que atravessam a área para pescar no rio e catar mariscos nos manguezais.
Plano de Manejo
Para o cientista florestal da Embrapa Lauro Nogueira, responsável pela conservação e manejo da reserva, o trabalho de inventariação foi extremamente proveitoso e rico, e as informações serão fundamentais para subsidiar futuras ações do Plano de Manejo, aprovado e publicado pelo ICMBio no primeiro semestre de 2014. Os dados obtidos renderão, também, uma rica massa crítica de trabalhos acadêmicos sobre a biodiversidade na Mata Atlântica em Sergipe.
Elaborado por uma equipe de mais de 20 profissionais de diversas áreas, tanto da Embrapa como da Universidade Federal de Sergipe (UFS), contando com a colaboração da Conservação Internacional – Brasil, da ONG SOS Mata Atlântica e da Sociedade de Estudos Múltiplos, Ecológica e de Artes (Semear), o plano engloba a caracterização da área e as principais ações de gestão do espaço para os próximos cinco anos.
É na transferência de tecnologias e na transmissão de conhecimentos que a Embrapa tem fortalecido a Reserva do Caju. O campo, como um todo, consiste numa grande vitrine de conhecimentos e tecnologias sustentáveis aplicadas à agricultura, com técnicas que se fundamentam em base ecológica, buscando alternativas de incremento da produção para os agricultores com redução ou eliminação de danos ao ambiente.
Visitas
A Reserva do Caju está aberta a todos que queiram conhecer de perto como aplicar tecnologias com foco na sustentabilidade ambiental, social e econômica. Ao longo dos anos, milhares de estudantes em idade escolar e universitários, além de agricultores familiares, pesquisadores e produtores, têm visitado o campo experimental para conhecer como são feitas as pesquisas.
Três trilhas ecológicas de extensões diferentes por dentro da área da reserva também podem se incluir à visita à fazenda da Embrapa. Essa atividade normalmente é realizada com alunos de nível fundamental e médio, no âmbito do programa Embrapa & Escola, e é coroada com o plantio de uma árvore com o nome da respectiva escola no Bosque Embrapa&Escola.
Para agendar uma visita ao Campo Experimental de Itaporanga d’Ajuda – Reserva do Caju, entre em contato com o Serviço de Atendimento ao Cidadão da Embrapa Tabuleiros Costeiros pelo telefone (79) 4009-1344 ou através do e-mail tabuleiros-costeiros.eventos@embrapa.br.
Fonte e foto: Embrapa