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Penitentes mantêm viva a tradição religiosa

Os penitentes percorrem cemitérios, santas-cruzes, cruzeiros e capelas

Há mais de 100 anos o município de Nossa Senhora das Dores é palco de penitências durante a Semana Santa. Neste período do calendário católico, situado na Quaresma (40 dias de preparação para a Páscoa), devotos de todo o mundo rememoram a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Tradicionalmente, a Via-Sacra é uma das mais expressivas manifestações desta devoção, pois, através dela, os fiéis buscam repetir o sacrifício redentor de Jesus em seu percurso até o Calvário, onde foi crucificado pelo perdão dos pecadores, sentir suas dores e sofrer seu flagelo.

No Nordeste, durante a Quaresma, uma reminiscência medieval está enraizada desde os tempos coloniais: a procissão de Penitentes. Nesta prática, os devotos percorrem cemitérios, santas-cruzes, cruzeiros e capelas a penitenciarem-se, como pecadores arrependidos de suas falhas e desejosos de misericórdia para si ou para seus entes queridos já falecidos, mas, também, como promesseiros que alcançaram alguma graça e vêem nesse ato uma forma de agradecer aos céus pelas mesmas.

Em Nossa Senhora das Dores, interior de Sergipe, a penitência é realizada não somente na sede do município, mas igualmente em povoados como Sucupira e Gado Bravo Norte (em ambos na Quinta-feira da Semana Santa). Entretanto, é na cidade que esta prática se torna mais evidente, seja pela quantidade de devotos, seja pela atração de turistas e filhos ausentes que para ela se deslocam com o objetivo de acompanhar, assistir ou participar de algumas das manifestações penitencias que ocorrem na Sexta-feira Santa.

Atos votivos

Além do mais, Dores ganha um destaque maior pela quantidade de atos votivos à Paixão de Cristo que se dão na sexta-feira da Semana Santa, uma vez que nesse dia se realizam as seguintes procissões: 1ª) Cruzeiro do Século (que tem início às quatro horas e se estende até as sete e meia da manhã, perfazendo 5 km entre a Igreja Matriz e o local que dá nome à mesma); 2ª) Madeiro (que das treze às dezoito horas percorre 15 km, com saída do bairro Gentio e chegada no Cemitério Municipal); 3ª) Senhor Morto (são 2 km de percurso no centro da cidade); e 4ª) Penitentes (que começa no Cemitério às vinte horas da sexta e, após 20 km de caminhada pelo subúrbio e centro, termina na Matriz às três horas da madrugada de sábado).

Dentre as práticas devocionais presentes nestas manifestações, além da penitência e da promessa, podemos destacar o ex-voto, que é a materialização de uma graça alcançada através do depósito de partes do corpo humano feitos geralmente de gesso, barro ou madeira em locais de oração e que representam a cura de alguma doença por intermédio dos seres espirituais.

No que se refere aos personagens envolvidos nos respectivos atos, ressaltamos a figura do penitente, com sua veste branca (simbolizando a pureza de espírito ao rezar), cordão de São Francisco na cintura e capuz cobrindo o rosto a preservar sua identidade; bem como a figura da beata. Assim é denominada a mulher que participa da procissão do Madeiro e que usa vestes negras a representar seu luto pela morte de Cristo, terço na mão em reverência à devoção a Maria e rosto encoberto.

Vale lembrar, que alguns penitentes e beatas fazem todo o percurso com os pés descalços, tornando sua caminhada ainda mais dolorosa e ajudando a manter viva há mais de um século a devoção à Paixão e Morte de Cristo em terras sergipanas.

Por João Paulo Araújo de Carvalho

 

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