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Do bom e consciente brasileiro

Por Marcelo Rocha*

Vivemos a era do maniqueísmo, hoje, tal qual vivia-se o período das trevas, na idade média. Se há 1000 anos o conhecimento era adstrito à “vontade religiosa”, que dizia, inclusive, quem saberia ler, hoje, o “patriotismo” impede de se refletir com mínima profundidade sobre as coisas, de modo que, acreditando estar ser o saneamento político algo “simples assim”, muitos concordam em “jogar a água suja com o bebê dentro”….

A esterilidade. O maniqueísmo – de benedito e Adolfo – viceja na ascendente não aceitação de opiniões alheias. Certamente a vida é uma linha sem curvas desvios ou retornos e o homem não é contraditório. A moda é se enxergar as coisas por esse viés, diga-se de passagem, tacanha: se você não está comigo, você está contra mim ou “quente ou frio, morno eu vomito”.

Parece que as coisas se explicam simplesmente no bem e no mal. Que as pessoas dividem-se, perfeitamente em dois grupos: as boas e as ruins. É nesse diapasão que a máxima “nada é tão ruim que não tenha um lado bom, nem tão boa que não possua algo ruim” virou uma falácia, uma mentira deslavada. Portanto, só existem dois tipos de brasileiros: as pessoas de bem e as pessoas ruins. As pessoas de bem seriam os patriotas, as de mal, os que não pensam exatamente iguais aos “patriotas”. Como Samuel Johnson é atual, falando sobre patriotismo.

Certamente, por este prisma, a solução pro nosso país é chamar Gorpo e Drielle (https://youtu.be/96N3k9IhHpw) , o dueto de ambos, cantando “o bem vence o mal”, salvou o reino de Greyskull, pois “espanta o temporal/azul amarelo/tudo é muito belo/o fraco fica forte/e vence até a morte/isso é o que ele faz!”. (some a escuridão…)

Pois bem, a esterilidade de idéias compõe o quadro. É interessante ouvir técnicos da área jurídica defendendo a violação sistemática das normas jurídicas, especificamente do “due processo of law”, uma das maiores garantias históricas da história dos direitos e um dos maiores pilares do estado democrático de direito. Como diria “Seu” Elson “uma lastima que não resolve nem com 600 mil leopardos”.

Ora, parece exagero, infelizmente não é. Hoje, defender o devido processo legal virou sinônimo de defender o governo. E defender  o governo é sinônimo de duas coisas, não necessariamente antagônicas, da parte de quem acusa: ser alienado ou ser bandido (nesse caso, o jenial exercício reflexivo, conclui que quem defende bandido é bandido também – sobrou pra presunção de inocência).

Os defensores do devido processo legal e de outras garantias constitucionais, decorrentes de fatos históricos que marcam a humanidade até hoje – merecendo reverência de diversos outros Estados que adoramos adora – virou coisa de coitado.

Neste diapasão, procurar entender as coisas do mundo e os processos democráticos, por exemplo, é coisa de alienado.

Ora, sabemos que no fundo não é nada disso. Tudo isso, exatamente o que aponta para o lado da antidemocracia e incivilidade é simplesmente fruto de um ódio visceral que hoje já não tem vergonha de “sair do armário”,  o clima está propício a isso. Queima! Queima! Existem os incautos, é verdade. Mas a coisa, como um todo, passa ao largo da inocência.

Uma coisa se percebe facilmente, poucos tem noção de como as coisas ocorrem no mundo em volta, pois julgam todos os problemas com soluções “simples assim”, outros sabem que não é simples assim, mas o desejo pessoal se sobrepõe à qualquer exercício de razão, uns não sabem ao certo, mas preferem exercitar o achincalhe. Curioso, é que nesse grupo geral, todos odeiam direitos coletivos e defendem com unhas e dentes direitos individuais. Defendem, por exemplo, o Estado mínimo, mas sem abrir mão do emprego público, do financiamento da caixa e etec. – ou, no nosso caso, ir servir à Força Nacional e receber a polpuda diária do Governo Federal. É isso….

Em linhas gerais, não precisa explicar muito, está tudo aí, para quem quiser ver.

Vou concluir com um comentário do nosso grande Doutor Hélder Teixeira, ontem, que nos obriga, no mínimo, a refletir, independente de concordarmos ou não (seja no todo ou em parte, inclusive):

“Tudo o que está ocorrendo agora não me surpreende em nada. Sempre fui desconfiado e pessimista em relação ao tal do povo brasileiro. O que estamos vendo é a demonstração de que as teorias otimistas defendidas por idiotas como Roberto Damatta e Darcy Ribeiro sempre foram falácias. O brasileiro nunca foi um povo hospitaleiro, bondoso, solidário ou qualquer coisa que o valha! Sempre fomos uma África do Sul hipocritamente escondida; um Alabama sertanejo; uma Alemanha Nazista em potencial. E não estou falando das manifestações. Estou falando acerca de todos os que agora se embatem em nome de causas vazias. Isto aqui sempre foi uma casa em decadência.”

 ….afinal, jogando a água suja com o bebê dentro, resolve dois problemas: tanto se livra da água suja, quanto de quem a suja. O resto – se o bebê é indefeso ou seu – pouco importa. Estamos sim na idade média… Lá em Esparta, ao menos, o bebê só seria jogado se fosse deficiente. Seriam muitos “bebês”, hoje.

* Marcelo Rocha é capitão da Polícia Militar de Sergipe.

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