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Um poeta de bata longa

Por Antonio Samarone *

Um dia desses, eu afirmei que a poesia estava escasseando em Sergipe. Mexi num salseiro. O que apareceu de poetas inspirados e com a foice na mão, foi promissor: “estamos aqui, disseram eles!”

Pensando bem, eu exagerei! Esqueci até o dr. Rômulo, um poeta de nascença.

Rômulo de Oliveira Silva é filho do goleiro Lessa e dona Lene. Para quem ainda não conhece, Rômulo nasceu na Vila Operária da Passagem, em Neópolis. Veio para a Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, com 7 anos. É um dos nossos.

Dona Lene criou os seus filhos com rédea curta. O dr. Rômulo é homem de fino trato, culto, Íntegro, um conservador a moda antiga.

A Vila Operária da Fábrica de Tecidos do Comendador Peixoto, possuia atrativos culturais. A boa música, o cinema e teatro. Dona Marlene (a mãe do poeta), era iniciada nas belas artes. Rômulo teve de quem herdar a sensibilidade poética.

Nessa passagem de sua obra, o dr. Rômulo resumiu a sua diáspora:

“Quando dobrei pela última vez o entroncamento da Vila Operária da Passagem onde nasci, ainda com sete anos de idade – acompanhando a minha mãe e com a minha irmã na boléia de um velho caminhão Chevrolet, dirigido pelo motorista Zé de Ana, com destino a uma cidade que eu nunca havia ouvido falar, Itabaiana – eu jamais imaginaria que estava cumprindo uma saga migratória que havia sido iniciada pelo meu avô Pedro de Jeremoabo, pelas minhas tias velhas de Gararu, e pelo meu pai, de Caruaru.”

Eu, um adepto do conceito junguiano do inconsciente coletivo, busco os fundamentos da riqueza e da diversidade do pensamento do dr. Rômulo, nessa sua origem. Poeta, filosófo, médico e escritor. São muitas heranças, são muitas culturas.

Como entender um conservador humanista e democrata? Um choque, para um esquerdopata da minha estirpe. Eu sempre associei o iluminismo e o humanisno, as teses da esquerda. Gente, eu estava errado, existe pelo menos uma exceção. Deve ter outras.

O dr. Rômulo de Oliveira Silva, um angiologista conceituado, retribui a sua formação em escolas públicas, com a sua dedicação ao SUS. Nunca deixou os ambulatórios municipais da Rua de Bahia. Prestando o mesmo serviço que presta em sua clínica particular.

O dr. Rômulo sempre foi um menino estudioso. Nunca perdeu esse vício. Achando que a filosofia tinha uma sabedoria oculta, meteu a cara nos filósofos. Fez o curso, na UFS.

Portanto, peço desculpas ao poeta de batas longas, dr. Rômulo, e a tanto outros poetas, invisíveis à minha visão caolha. Só a poesia salva!

“Ouvi galos cantar de dia/ Durante um eclipse total do sol./ Uma lição muito pouco percebida/ Nem sempre que escurece – é noite;/ Nem sempre que amanhece – é dia.” – Alberto Carvalho.

Eu ouvia o galo cantar, só não sabia onde!

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.

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