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O urubu quase virou ilustre cidadão aracajuano

Por Adiberto de Souza *

Segurança aposentado do Senado, o impagável Cosme Fateira foi vereador de Aracaju em pleno golpe militar. Na verdade, ele ficou na primeira suplência do MDB, tendo assumido o mandato com a renúncia do vereador Wilson Moura. Batizado Cosme Fonseca de Oliveira, este itabaianense boa praça ganhou o apelido na campanha eleitoral de 1966, por ter usado como bandeira política a defesa das vendedoras de vísceras bovinas do antigo mercado das carnes de Aracaju.

Cosme Fateira (D) recebendo uma homenagem do irmão e desportista Francisco Vilobaldo de Oliveira, o “Chico do Cantagalo”

Na Câmara Municipal, continuou defendendo melhores condições de trabalho para as amigas fateiras. Para sua tristeza, a Prefeitura não lhe dava ouvidos, enquanto os colegas de parlamento só se preocupavam em conceder títulos de cidadão aos oficiais do Exército, que chegavam aos montes na capital para proteger a ditadura militar e prender os adversários do regime, todos tidos pelos de farda como comunistas, comedores de fígados de criancinhas. Invocado com a mesmice do legislativo, Cosme resolveu, de uma cajadada só, criticar a sujeira da cidade, defender as amigas fateiras e protestar contra a vergonhosa bajulação aos milicos. Claro, sem chamar muito a atenção dos guardiões do golpe militar para não ir em “cana” também.

Para surpresa de todos, o vereador Cosme Fonseca apresentou um projeto de lei concedendo um título de cidadão ao Urubu. Na justificativa, o polêmico parlamentar dizia que se a ave não fizesse a limpeza da cidade, ninguém suportaria tanta sujeira. O ex-parlamentar jura que, até por chacota, havia clima para aprovar a homenagem ao mascote do Flamengo, porém o comando do Exército ficou sabendo a tempo de obrigar a Câmara a rejeitar o projeto.

A rejeição da propositura, contudo, não evitou a repercussão do episódio pelos jornais do Sudeste do Brasil, despertando a atenção, inclusive, da imprensa internacional. Por achar que o vereador feriu as regras dos bons costumes, desmoralizando a sociedade com seu inusitado projeto de lei, o Exército proibiu o MDB de registrar a candidatura de Fateira à reeleição. Cosme, porém, sempre preferiu atribuir a castração de sua trajetória política à inveja dos aliados emedebistas, que mal saiam em notinhas na Gazeta de Sergipe, enquanto ele e seu urubu quase aracajuano ganharam um generoso espaço na famosa norte-americana Revista Time. Home vôte!

* É editor do site Destaquenotícias

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