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O mês do desgosto

Jornalista Marcos Cardoso

Mês do cachorro louco, quando o diabo está solto. Há uma mística sobre o mês de agosto que não se sabe exatamente onde nasceu. Popularmente, diz-se que no mês que homenageia o imperador romano Augusto aumenta a concentração de cadelas no cio e crescem as brigas dos machos pelas fêmeas, fazendo proliferar a raiva. Daí porque mês do cachorro louco. Também se diz que neste mês o Candomblé reserva o dia 24 para todos os Exus. E vem disso o mês do diabo andar solto.

Uma interpretação mais razoável para o epíteto mês do desgosto tem a ver com a seguinte história: as mulheres portuguesas não casavam nunca no mês de agosto, porque nessa época do verão no hemisfério norte os navios das expedições zarpavam à procura de novas terras. Casar em agosto era sinal de desgosto, porque podia significar ficar só, sem lua-de-mel ou até mesmo viúva. Os colonizadores portugueses teriam trazido essa crença para o Brasil.

Fato é que grandes tragédias do mundo moderno marcaram o oitavo mês do ano. As duas grandes guerras começaram nesse mês, a Primeira no dia 1º de agosto de 1914, a Segunda em 1939 – embora nesse conflito o consenso seja maior quanto à data de 1º de setembro, quando a Alemanha invadiu a Polônia.

Lembre-se que no dia 2 de agosto de 1932, Hitler já havia assumido o governo, tornando-se o führer da Alemanha. Fechando o episódio da Guerra, mais de 200 mil pessoas morreram nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, quando as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram destruídas pela bomba atômica americana.

Na Guerra Fria, o Exército Vermelho invadiu a Tchecoslováquia no dia 21 de agosto de 1968. E no dia 8 de agosto de 1974Richard Nixon renunciou à presidência dos Estados Unidos, atingido pelos escândalos de Watergate.

No Brasil, o mês de agosto também esbanja desgraças. Basta lembrar que no mesmo mês de 1942 foram afundados na costa sergipana, por um submarino alemão, três navios de carga e passageiros, o Baependi, o Araraquara e o Aníbal Benévolo. Ao todo, foram 32 navios da Marinha Mercante do Brasil e 43 navios de bandeira estrangeira afundados na costa brasileira durante a Segunda Guerra Mundial, episódio que obrigou Getúlio Vargas a abandonar o suspeito estado de neutralidade e romper relações com os países do Eixo.

O mesmo Getúlio, como resultado de uma crise política que assolou o país, vitaminada por uma imprensa ávida por interesses inconfessáveis, suicidou-se, no dia 24 de agosto de 1954, no Rio de Janeiro. Sete anos e um dia depois, forças estranhas fizeram com que Jânio Quadros renunciasse à presidência da República, no dia 25 de agosto de 1961.

Vítima de um desastre automobilístico, Juscelino Kubitscheck faleceu no dia 22 de agosto de 1976. E bem recentemente, no dia 13 de agosto de 2014 morreram num acidente aéreo em Santos o ex-governador e então candidato a presidente da República Eduardo Campos e seu principal assessor, o ex-deputado federal sergipano Pedrinho Valadares, além da tripulação e outros assessores.

E se tem um mês de agosto em que pode acontecer tudo – ou nada – é este que estamos. A crise política e econômica parece ter atingido um período de maturidade que prenuncia um momento de decisão no Planalto. Há uma avaliação subterrânea de que, se Dilma Rousseff sobreviver ao mês de agosto, possivelmente terá ultrapassado o difícil ano de 2015. Em isso acontecendo, a candidatura de Lula em 2018 estará mais viva do que nunca. E essa é a maior preocupação daqueles que têm pressa.

Há um panelaço convocado para o dia 16 que provavelmente não alcançará os objetivos propostos, principalmente porque o PSDB não se conteve e apareceu como pai da manifestação. E o povo brasileiro, isso é evidente, não está tolerando muito os políticos e os partidos. Manifestação engendrada por agremiação partidária hoje é projeto natimorto.

Há o julgamento das pedaladas fiscais do governo pelo Tribunal de Contas da União, que deve acontecer agora. A condenação das contas de Dilma ensejaria um pedido de impeachment, por crime de responsabilidade fiscal. Os interesses não são meramente técnicos e o placar previsto é provavelmente adverso. Mas o TCU tem nove ministros e três deles estão sob suspeita.

O presidente da Corte de Contas, Aroldo Cedraz,que poderia votar em caso de empate, está sob suspeição porque seu filho, Tiago (ironia das ironias), caiu nas malhas da Operação Lava Jato e foi acusado por Ricardo Pessoa, dono da UTC, de ter recebido R$ 1 milhão para conseguir informações privilegiadas no TCU. O dinheiro teria como destino o também ministro Raimundo Carreiro.

Mais recentemente, outro ministro do TCU, o ex-senador Vital do Rêgo foi denunciado por desvios de dinheiro da prefeitura de Campina Grande, na Paraíba. Os três suspeitos são coincidentemente votos contrários às contas de Dilma. Mas se votarem estarão decretando a parcialidade do julgamento e, por tabela, desmoralizando o Tribunal de Contas da União.

Resta a fúria de Eduardo Cunha, que decidiu desengavetar 11 pedidos de impeachment contra a presidenta e, logo após anunciar que virou a casaca e passou para a oposição, prometia tocar fogo na Câmara neste mês de agosto. Na última segunda-feira, num encontro com empresários em São Paulo, já aliviou o discurso. Disse que um pedido de impeachment não é simples e que não pode ser tratado como recurso eleitoral. “O impeachment é um processo grave, com consequências danosas para o país”, ponderou.

Como se vê, este agosto prometia ser o mês do cachorro louco. Mas parece que os cachorros já estão vacinados.

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