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O Céu das Carnaíbas

Por Antonio Samarone *

Conheci o professor José Paulino em 1979, quando a União Nacional dos Estudantes (UNE) saía da ilegalidade. Baseado no Decreto-Lei 477, o AI-5 dos estudantes, a ditadura proibiu eleições para UNE.

Na Universidade Federal de Sergipe, o pró-reitor estudantil José Paulino solicitou as urnas da justiça eleitoral, e bancou a legalidade da eleição da UNE. Incentivou a ida dos estudantes ao Congresso da UNE em Salvador.

José Paulino foi o iniciador dos estudos sobre o participação de Sergipe na guerra de Canudos, inspirado na leitura da “Guerra do Fim do Mundo”, de Vargas Llosa.

Foi em Sergipe que Antonio Conselheiro iniciou a sua fase messiânica. Na edição de 22 de novembro de 1874, o jornal estanciano “O Rabudo”, noticiou a presença do Conselheiro em Sergipe. Conselheiro peregrinou por vários municípios. Em Itabaiana existe um monumento na rua da Pedreira marcando a passagem de Conselheiro.

Registra o jornal “O Rabudo, sobre Conselheiro”:

“Anda no caráter de missionário, pregando e ensinando a doutrina de Jesus Cristo. Suas prédicas consistem na proibição dos xales de merinó, botinas, pentes, e não se comer carne e coisas doces nas sextas e nos sábados.”

Conselheiro apareceu na cidade de Itabaiana em 1874. “Esmolava, seguiam-no os primeiros fiéis, um dos quais carregava o templo único, um oratório tosco, de cedro, encerrando a imagem de Cristo.” – citado por José Paulino.

Muitos sergipanos mal-aventurados seguiram o séquito de Conselheiro, defenderam o arraial, não se entregaram. A peregrinação messiânica começou em Itabaiana. O padroeiro de Canudos era Santo Antonio dos pobres, imagem levada de Itabaiana.

“Chamava-se Antonio e o povo o denominava Conselheiro. Passou por Sergipe, onde fez adeptos. Pedia esmola e só aceitava o que supunha necessário para a sua subsistência.” – Sílvio Romero.

Conselheiro arrebatou em sua caminhada rumo ao Belo Monte, centenas de sergipanos, sobretudo negros. O sangue dos sergipanos foi derramado em Canudos.

Quando criança, ouvia mamãe recitar uma trova, citado por Sílvio Romero:

“Do céu veio uma luz/ que Jesus Cristo mandou/ Santo Antonio Aparecido/ dos castigos nos livrou/ quem ouvir e não aprender/ quem souber e não ensinar/ no dia do Juízo/ a sua alma penará.”

Se as autoridades do turismo conhecessem a história de Sergipe, a Orla Por Sol não seria apenas uma bela paisagem. Foi na foz do Vaza Barris, onde os corpos mal enterrados durante a guerra de Canudos, em Belo Monte, foram parar em Aracaju, após a primeira enchente do rio.

Sem contar que a 2ª coluna, na IV Expedição da guerra. sob o comando do General Cláudio do Amaral Savaget, saiu do Aracaju. O escritor e intelectual sergipano Pedro Moraes, descreveu detalhadamente esta coluna, sob a ótica do exército.

O sergipano José Calazans desvendou a história de Canudos para o mundo, e o professor José Paulino, incluiu Sergipe.

Foi José Paulino que mobilizou estudantes e estudiosos sergipanos sobre Canudos. Cito de memória, entre os entusiasmados: Chico Buchinho e o jornalista Enock, irmão de João Brasileiro.

Perdemos um conselheirista, José Paulino da Silva (80 anos), pernambucano de Cachoeira de Taépe. Seminarista na Congregação Salesiana Dom Bosco, em Jaboatão. Em 1970, José Paulino ingressou na Universidade Federal de Sergipe.

Entre as várias contribuições de José Paulino, sem dúvidas, a maior, foi tirar do esquecimento, a participação de Sergipe na jornada de Antonio Conselheiro.

Descanse em paz, Zé Paulino, missão cumprida!

* É médico sanitarista

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