Sergipana campeã do Enchefs Coquetelaria participa de torneio internacional
23 de julho de 2022
A camisa vermelha de JB pode sinalizar seu novo time político
23 de julho de 2022
Exibir tudo

O alto-falante da discórdia na Prefeitura de Aracaju

Por Adiberto de Souza *

Instalada em 1961 pelo então governador gaúcho Leonel Brizola (PTB) para defender a posse do vice João Goulart na Presidência da República, a Rede da Legalidade criou um problemão em Aracaju. Não havia tanta oposição ao fato de o renunciante Jânio Quadros ser substituído pelo político gaúcho. Na verdade, a pendenga ocorreu por causa do alto-falante que o prefeito da capital, José Conrado de Araújo (PTB), mandou instalar no prédio da Prefeitura visando amplificar os inflamados discursos brizolistas.

Agonalto Pacheco imortalizou-se nesta foto – o segundo agachado da esquerda para a direita – entre João Leonardo e Vladimir, na pista do Galeão (Clique na foto para ampliar)

Em seu livro História Política de Sergipe, o professor Ariosvaldo Figueiredo conta que os petebistas adoravam as transmissões diárias da Rede da Legalidade. Estas, no entanto, eram muito mal vistas no quartel do 28º Batalhão de Caçadores, particularmente pelo comandante José Lopes Bragança. Linha dura, o coronel subia nos coturnos quando, entre uma fala e outra de Leonel Brizola, o vereador petebista Agonalto Pacheco usava o alto-falante para descer a madeira nas Forças Armadas, particularmente no Exército.

Preso político e exilado

Antes de prosseguirmos sobre a pendenga entre o prefeito e o coronel Bragança, lembremos o histórico político do vereador petebista que tanto infernizou as Forças Armadas. No artigo “Agonalto Pacheco e o Hércules 56”, o jornalista Marcos Cardoso escreve que este filho de Aquidabã atuou, desde a adolescência, no Partido Comunista Brasileiro, o Partidão. Após o golpe militar de 1964, Pacheco mudou-se para São Paulo, onde se alistou na Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, principal dirigente da luta armada contra a ditadura.

Prefeito José Conrado de Araújo

Marcos Cardoso escreve que em janeiro de 1969, Agonalto foi preso quando organizava uma reunião nacional de proscritos. Torturado no Dops de São Paulo para delatar Marighella, que sabia onde estava escondido, resistiu estoicamente. No dia 4 de setembro daquele ano, a ALN e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) sequestraram o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick. Para libertá-lo, exigiram que 15 presos políticos, entre os quais Agonalto, fossem soltos e mandados para o exílio, além da divulgação na imprensa de um naifesto contra o golpe. O governo-militar aceitou as exigência e o avião Hércules 56 transportou os ex-presos para o México.

Bom, voltemos ao alto falante da discórdia:

Invocado com as críticas diárias às Forças Armadas, o coronel José Lopes Bragança ordenou que o barulhento alto-falante da Prefeitura fosse silenciado imediatamente. Como não foi atendido, ameaçou prender o prefeito Conrado. Temendo ver o sol nascer quadrado, o líder petebista requereu e conseguiu um habeas corpus preventivo. Por conta desse remédio jurídico, o serviço de som prosseguiu retransmitindo a Rede da Legalidade e, naturalmente, os inflamados discursos de Agonalto Pacheco.

Achando pouco o salvo conduto obtido na Justiça, o populista Conrado de Araújo ainda mandou uma carta desaforada para o comandante do Exército: “O senhor é um arbitrário, seu filho é um tarado e sua filha uma devassa”, escreveu. De ambos os lados da contenda se esperou uma reação forte do pirracento coronel Bragança, porém este se contentou em devolver a correspondência com a seguinte inscrição no envelope: “Volte ao lixo de onde veio”. Diante do recuo do militar, Agonalto Pacheco continuou dizendo o diabo das Forças Armadas no barulhento alto-falante da Prefeitura de Aracaju. Home vôte!

* É editor do site Destaquenoticias

Compartilhe:

1 Comments

  1. Cezar Rocha disse:

    Maravilhoso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *