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Magnólia, a travesti que escrachou a burguesia de Aracaju

Por Adiberto de Souza *

No final da década de 70, o Iate Clube de Aracaju só aceitava a fina flor da sociedade sergipana. Além do enorme salão nobre, a casa oferecia aos distintos sócios a Boate Saveiros, com música ao vivo da melhor qualidade. Um luxo exclusivo para quem tinha poder e muito dinheiro. Há histórias de novos ricos que, mesmo insistindo, não foram aceitos como sócios do Iate, clube localizado às margens do Rio Sergipe, na ainda não poluída Praia Farmosa, zona sul de uma cidade com ares provincianos.

Magnólia não esquece da noite em que se sentiu uma rainha, em seu vestido vermelho brilhante

Para se ter uma ideia do preconceito reinante em Aracaju naquela época, durante o horário comercial as prostitutas dos cabarés famosos, como Alabama, Vaticano, Miramar, Xangai e Shell, não podiam circular pelas ruas do centro da capital. Na Praia de Atalaia, só as famílias frequentavam o lado sul, a partir de onde é hoje Hotel Beira Mar. Prostitutas e homossexuais assumidos – poucos à época – só podiam tomar banho de sol e mar na banda norte do balneário, na direção da Coroa do Meio. E ai daquela ou daquele que se aventurasse no “terreno proibido”.

Pois bém!

Empresário da moda e farrista dos melhores, Wilson do Gavetão, dono de importante loja de roupas no centro da capital, resolveu escrachar a burguesia.

Numa noite de gala, Wilson chegou à Saveiros de braços dados com Magnólia, a primeira travesti assumida de Aracaju. “Pra mim, a nossa entrada na boate foi coisa de cinema. Wilson no melhor terno e eu de peruca loira e linda, um vestido longo, vermelho brilhante e arrasando na maquiagem”, lembra Magnólia, hoje com 74 anos. Pense no buxixo… As dondocas subiram no salto alto, enquanto os homens queriam apunhalar Wilson com os olhos.

Magnólia, que passou quase toda a vida vendendo cuecas e meias masculinas nos mercados centrais de Aracaju, é quem conta o fim da história: “Lá pras tantas e muito dona de mim, cruzei as pernas de forma escandalosa e, com o braço apoiado na mesa, divinamente decorada, chamei o garçom, sem disfarçar a voz de homem: Luiz, me traga aí mais um uísque, porra! Foi um Deus nos acuda. Pararam a orquestra e nos ‘convidaram’ pra sair quase aos empurrões. No dia seguinte, a direção do Iate cancelou o título de sócio proprietário de Wilson. E ele nem ligou”, diz Magnólia, às gargalhadas. Supimpa!

* É editor do Portal Destaquenotícias

 

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67 Comments

  1. David disse:

    Adorei essa história

  2. IVAN CARLOS SANTOS disse:

    Muito interessante.

  3. Alfredo Sousa disse:

    Assim que vi a chamada dessa matéria, me lembrei na hora do meu 1° patrão Wilson Silva.. trabalhei durante muitos anos com o Wilson no GAVETÃO, meado dos anos 80 e conheci magnólia indo sempre final da tarde na loja com suas cuecas dentro de uma sacola. Adorei relembrar esssa história! Bons anos ! Wilson foi esquecido muito rápido! Homem que inovou sergipe no mundo da moda , trouxe vários artistas da globo pra conhecer aracaju.

    • Fabio Ramos disse:

      Fis fisioterapia em Magnólia em 2013, acho, quando na ocasião fraturou o braço, fiquei conhecendo sua história. Pessoa maravilhosa.

      • GILTON KENNEDY SOUZA FRAGA disse:

        O preconceito em Aracaju ainda existe e muito forte, infelizmente. Pessoas como Magnólia tantas outras sofreram e sofre com a ignorância de grande parte da sociedade de Sergipe.

        • Valmira disse:

          Sociedade hipócrita!!!!
          Muitos dando o cool, cheirando pó e traindo os cônjuges… Nos poupem essa burguesia de merda! Deixam de viver por conta rótulos impostos mas que não praticam!

        • Júlio César disse:

          Bravo!
          Melhor comentário!
          Só quem não quer ver, que o preconceito em todas as esferas em Aracaju, ainda é gritante.
          O que abafou mais foram as leis que cobram judicialmente quem comente esses crimes, porém visivelmente pessoas ainda sofrme na pele esses tipos de discriminações.

  4. Analuciacamposprado@gmail.com disse:

    Adorei a crônica!

  5. Fábio Salviano disse:

    Que lindx, que Magnólia seja musa pra toda eternidade, viva a Magnólia!!

  6. Katia disse:

    Ótima, a escrachada a burguesia!

  7. JOAO SILVA DOS SANTOS disse:

    E a história continua numa versão mais moderna.

  8. William Ferreira disse:

    Parabéns

  9. José moreira dos santos disse:

    A Serra de itabaiana não é de itabaiana é de Areia Branca.

  10. CASSIUS CLAY SOUZA TELES disse:

    Por mais histórias como essa de minha Aracaju

  11. Cândida Oliveira disse:

    A escrachada foi maravilhosa!!

  12. Adriana Nascimento Pereira disse:

    Meu pai e toda minha família, Hunaldo Barros, dono do Bar O Amarelinho da Atalaia, sempre respeitou Magnólia, ela frequentava o restaurante e eu na época pequena ficava de longe a observando e achando o máximo a viagem, beleza e ousadia da mesma, pra época, parabéns Magnólia pela coragem, patrimônio vivo de Sergipe.

    • Pura verdadade, seu pai e sua familia sempre respeitou a todos. Eu que o diga, cansei de beber e almoçar com ele. Não só eu como os demais funcionários. Que o diga Naldinho seu irmao e gerente. Se existir patrão assim hoje são poucos ou nenhum.

  13. Sônia Rodrigues disse:

    Temos de parabenizar a nossa gloriosa magnólia k devemos respeito a esse ser humano maravilhoso,bem lembrada aqui adorei tem de se tornar patrimônio de Aracaju,pessoa forte recistente amada ,respeitada viva a nossa musa maginolia bjos no seu ❤️

  14. Antônio Eduardo Correia Santos disse:

    Morrei vizinho ao senhor que me contou algumas histórias de Aracaju e ele falava em magnólia

  15. Antônio Gomes Viana disse:

    O referido magnólia é sangue bom, nunca fez mal pra ninguém, ele frequenta o bar de vermelho que fica no mercado, os dois são amigos

  16. Anderson Menezes disse:

    A história de Magnólia, merecia um curta metragem.

  17. Rodrigo Pedrosa disse:

    Seu texto é contraditório e injusto com a burguesia. Como que um travesti chocou a burguesia se ele mesmo, numa noite de gala, foi de braços dados à Saveiros acompanhado de um empresário da classe burguesa?
    Hoje, a burguesia continua linda e maravilhosa, inclusive com muitos homossexuais e travestis ricos.
    Só foi uma pena que no casamento conservador e burguês de Luís Inácio Lula da Silva, não terem sido convidados travestis pobres, índios, sem teto e sem terra. Cadê a diversidade e inclusão?
    A hipocrisia é monopólio de esquerdista. Até isso foi surrupiado.

  18. ROSANGELA NICACIO disse:

    Fiquei muito feliz de ler essa publicação. Parabéns. Magnólia pela sua coragem de ser que vc é. Merecedora de respeito e admiração. O senhor Wilson é um verdadeiro cidadão de respeito e merece toda admiração por ter tido postura de uma pessoa que respeita as a diversidade existente. (pessoas).

  19. TATIANA DANTAS disse:

    Só uma dica a galera do áudio visual, que tal curtas-metragens assim inspirados nessas pessoas- personagens que podem nos apresentar enredos incrivéis de reflexão e pq não de riso tb. Só

  20. Amâncio Cardoso disse:

    Adiberto, sugiro que suas crônicas virem livro. São muito boas.

  21. Dora Mafra disse:

    Ela merece um longa metragem. Tem histórias maravilhosas para contar!

  22. Margarete disse:

    Conheci Magnólia, na minha adolescência. Achava maravilhoso o seu jeito de ser…
    A gente nasce, pra o que é…
    Aonde
    está Magnólia, hoje!?

    • Arlene Almeida Galvão Sampaio disse:

      Fantástico texto, amei.
      Merece um curta com a história da MAGNÓLIA. Depois que li kkkkkkk sem comentários. Impossível expressar qualquer coisa. As palavras são fracas pra dizer o que esse texto representa

  23. Jorge francisco de Oliveira disse:

    Hoje eu estou na cidade, do saudoso Lisboa, em Ilha das flores-se, outro grande nome da história de Aracaju e de Sergipe. Cantor, compositor artista coreógrafo advogado e cabeleireiro. Sim também tem história para Belo filme um, o Maguiloia sempre vendendo as cuecas e meias no centro de Aracaju . Figura memorável viva MAGUILOIA.

  24. Raimundo Santiago disse:

    Vejo Magnólia como uma personagem épica na história de Sergipe, em tempos que já se produz em grande volume documentários e biografias de personalidades da burguesia, é necessário sair do tradicional conservadorismo e revolucionar transformando ela como também uma personalidade da história de Sergipe.

  25. Selmo disse:

    Selmo disse:. 12 de junho de 2022 Naquela época: anos 70 e 80, querer ofender alguém, era só chamar de magnólia. Aos 15 anos, eu estudava à noite no colégio Kennedy. Um certa noite na saída, vi um grupo de alunos aglomerados no muro do colégio e no centro estava a peça principal: A estrela Magnólia. Quando todos tinham saciados as suas curiosidades, me aproximei e fiz também várias perguntas sobre sua vida pessoal. Ela, com toda paciência e tempo, me respondeu a tudo o que lhe foi perguntado e ainda coisas de seu relacionamento familiar sob o qual não perguntei. Notei em sua fala a descriminação que sofria, embutido de um preconceito infeliz que a sociedade ainda nos tempos de hoje alimenta. Fiquei seu simpatizante e até hoje sempre que a encontro compro-lhes algo pra ajudar. Pena que na época não escrevi e nem gravei os quase 60 minutos de conversa. Magnólia, você; não precisou ser político, escritor ou ocupar cargo de maior instância, se tornou um patrimônio sergipano.

  26. Anderson Ferreira disse:

    Magnólia com certeza faz parte da história de Aracaju/SE

  27. Ribeiro Filho disse:

    Obrigado Adiberto pelo excelente texto, sobre a revolucionária Magnólia. Personagem marcante da vida privada de Aracaju. Parabéns pela pesquisa e pela redação dessa linda crônica.

  28. José Freitas de Jesus disse:

    Hoje tenho 62, desda adolescência via Magnólia pelas ruas de Aracaju, outros personagens também. Lembra do Marco Raful, Ipolito e outro que tinha uma loja de Langeri na rua Laranjeiras? Conhecido como Tô de Ajeitando. Personagens que frequentavam o bar na praça da catedral, bem no fundo. O Cacique ficava na frente. Quanto ao Iate Clube, bem, os Hipócritas da sociedade faziam trocas de chaves dos carros e mulheres, é claro.

  29. Paulo Roberto Oliveira Ferreira disse:

    Legal essa história da nossa Aracaju antiga .

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