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Jackson depõe na Comissão da Verdade

Governador Jackson Barreto contou que foi preso três vezes pelos militares golpistas

Em 20 de fevereiro de 1976, a “Operação Cajueiro”, desencadeada em Sergipe pelos militares no ápice da ditadura, teve como uma de suas vítimas o então deputado estadual e hoje governador Jackson Barreto (PMDB). Para elucidar e tornar públicos os fatos ocorridos à época, o governador relatou, nesta quarta-feira (24), à Comissão Estadual da Verdade (CEV), o que viveu na luta pela redemocratização do País.

Na segunda fase das sessões públicas para registro de depoimentos, a Comissão reúne, no período de 23 a 26 de fevereiro, em sessões públicas no Museu da Gente Sergipana, mais cinco vítimas do regime militar instaurado no Brasil pelo Golpe de 1964. Além de Jackson Barreto, nesta fase, já foram coletados depoimentos das vítimas, Delmo Naziazeno (servidor público) e do jornalista Milton Alves. O advogado Carlos Alberto Menezes, o promotor de Justiça, José Elias Pinho de Oliveira e Marcélio Bonfim serão os próximos a serem ouvidos.

“Sofremos na pele as consequências da luta pela liberdade e redemocratização do País. Na Operação Cajueiro eu não fui torturado, porque na época eu era deputado e imagino que eles estavam preocupados com a repercussão de torturar um deputado, foi mais uma tortura psicológica, com ameaças o tempo todo. O coronel gritava, batia na mesa e dizia: ‘Deputado, aqui as pessoas falam o que quer e o que não quer’, deixando claro que se alguém não falasse o que eles queriam, teriam meios persuasivos para coletar as informações”, afirmou Jackson.

 Segundo o governador, os militares golpistas queriam justificar que o mandato de deputado estadual era um instrumento de financiamento das atividades do Partido Comunista Brasileiro (PCB), “do qual eu era militante, filiado do setor de Agitação e Propaganda, naquele momento. Sofri processo de Segurança Nacional e depois todos nós fomos absolvidos, ainda assim, tentaram rever minha absolvição. Era algo que, depois entendi, também de interesse político, já que eu seria candidato a deputado federal em 1978”, relatou Jackson.

Em seu depoimento, Jackson recordou que além da Operação Cajueiro, onde foi detido por quase um dia completo para interrogatório, foi preso político por mais duas vezes, durante a ditadura militar. Quando estudante universitário, ao lado dos companheiros de movimento estudantil, também só não foi expulso da Faculdade de Direito pela coragem do então reitor, João Cardoso, que se negou a fazê-lo.

“Fui preso três vezes. Primeiro, eu e o grande jornalista sergipano Ancelmo Gois fomos presos no Quartel do 28º BC. A segunda vez, foi na sede da antiga Polícia Federal, na rua Capela, onde fiquei na mesma cela do major do Exército, João Teles de Menezes, muito ligado à figura de Luís Carlos Prestes. Era também meu companheiro de cela o geólogo Artemísio Resende e José Alves Nascimento, irmão da primeira dama da capital, senadora Maria do Carmo”, conta.

Na terceira vez em que foi preso Jackson foi levado para o Quartel da Polícia Militar, na rua Itabaiana, onde passou 17 dias. “ecebíamos visitas de alguns companheiros e familiares e a todos orientávamos no sentido que a coisa mais importante que todos tinham que fazer era divulgar a nossa prisão, porque cada vez que um companheiro era preso o fundamental era que informássemos o máximo à opinião pública, para garantir a segurança e  a própria vida daquele que foi preso”, recordou.

Homenagem aos mortos

Antes de iniciar os relatos à CEV, Jackson fez uma homenagem aos militantes da Universidade, já falecidos, que também viveram os duros tempos de repressão, a exemplo de Paulito, da Faculdade de Química, Vieira, da Faculdade de Economia, Urbano Jacinto, da Faculdade de Direito, Jackson Figueiredo, da Faculdade de Direito, Rosalvo Alexandre, militante desde o Colégio Estadual Atheneu Sergipense, Vivaldo Lima Sobrinho (irmão de Rosalvo e recentemente falecido) e Mário Jorge Menezes Viera.

Segundo Jackson, a Comissão Estadual da Verdade cumpre o papel de relembrar esses fatos que já pertencem à história para servir como exemplo às futuras gerações. “Seguindo uma orientação nacional, a Comissão Estadual da Verdade está aqui para que esses fatos não voltem mais a acontecer no Brasil. Para que a gente tenha consciência da necessidade de vivermos e defendermos a democracia”.

De acordo com o presidente da Comissão Estadual da Verdade, o professor Josué Modesto dos Passos Subrinho , o relato do governador  foi uma  importantíssima contribuição ao futuro acervo da Comissão, pois ilustra bem a memória de uma geração que construiu à resistência ao regime e testemunhou os mecanismos de repressão e resistência.

“O governador teve uma trajetória política que se inicia no movimento estudantil na resistência ao regime autoritário, o depoimento dele foi muito ilustrativo, já que ele tem uma memória impressionante e conseguiu relembrar fatos, pessoas e localidades. Depois analisaremos esses depoimentos, que estão sendo gravados, para ver as diferentes nuances, versões, eventualmente omissões, e poderemos novamente indagar os depoentes para detalhar, aprofundar algumas questões. Mas isso será um trabalho posterior da comissão”, explicou Josué.

Operação Cajueiro

A Operação Cajueiro foi tema de documentário patrocinado pelo Governo do Estado de Sergipe. A Operação inspirou os diretores Vaneide Dias, Fábio Rogério e Werden Tavares a realizar um curta-metragem sobre esse momento marcante da história do estado. O filme ‘Operação Cajueiro, um Carnaval de Torturas’ foi produzido com patrocínio do Governo de Sergipe, através do Edital de Apoio à Produção de Obras Audiovisuais Secult. No dia 20 de fevereiro deste ano, a Operação Cajueiro completou 40 anos de realizada.

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