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Já fui poeta?

Encontrei na estante um pacote amarelado do “Aperitivo Poético (coletânea de poetas sergipanos)”. É uma publicação da Prefeitura de Aracaju de 1990, gestão do prefeito Wellington Paixão. Iniciativa da Secretaria de Cultura, comandada por Lânia Duarte e que tinha Tadeu Machado na direção do Departamento de Difusão e Intercâmbio Cultural e Jeová Silva Santana dirigindo a Divisão de Assuntos Literários.

Naquele tempo, a prefeitura se preocupava com essas coisas hoje consideradas menos importantes.

Lá dentro do pacote me reencontrei poeta. Em meio a uma constelação de fazedores de poesia, lá estou com dois poeminhas, “O desejo proibido” e “Mel”. Poemas talvez um tanto herméticos, segundo um dia me advertiu Nélson de Araújo, o ilustrado escritor e professor da Escola de Teatro da UFBA. Talvez um tanto subjetivos.

A alegria do reencontro redobra na identificação da vizinhança. Lá estão Annete Figueiredo, Araripe Coutinho, Eunaldo Costa, Gilson Souza, Ilma Fontes, Jeová Silva Santana, Jozailto Lima, Mara Rubia Lopes, Maria da Conceição Ouro Reis, Núbia Marques, Ronaldson, Sônia Barreto e Vieira Neto, dentre outros.

O achado coincidiu com as sugestões que me têm feito ultimamente alguns amigos, como Jozailto e Zé Augusto (o agora romancista Augusto de Melo, autor do excelente “O caderno de Tântalo”), de que eu deveria voltar a fazer poesia. Na verdade, esses assuntos da alma a gente nunca larga, não é?

Mas a vida vai nos impondo caminhos e alguns ficam, senão esquecidos, adormecidos na memória. A poesia é muito sensível e por nada ela se assusta e se esconde. Para mim, por exemplo, existe uma quase incompatibilidade em fazer jornalismo e poesia. O jornalismo é uma atividade árida, difícil brotar expressão poética no dia a dia da razão. Admira-me quem consegue transitar nos dois mundos tão distintos da palavra.

Quando bem jovem fui mais atirado e viajava na leveza da poesia. Depois da fase de escrever para a namorada, influenciado por Vinicius, Drummond e Ana Cristina César, participei de movimentos, como o grupo que publicava a revista “Raiz”, editada por Nivaldo Menezes.

Ao lado dele e dos poetas Eduardo Casquinha e Léo Mittaraquis, publicamos um livrinho chamado “Becos e Trechos”, coletânea de poesia, de 1982, quando já estudante de jornalismo. Além dos dez poemas toscamente impressos, ilustrações e caricaturas também são de minha autoria.

Espalhei ainda alguns poemas na imprensa, preferencialmente na Folha da Praia do poeta Amaral Cavalcante, e participei de outras iniciativas, como o “Pacote de Poesia”, de 1983, organizado pelo grupo Coopoesia, formado por Anselmo Oliveira, Iara Vieira, Maruze Reis, Mara Lopes e Jaécio de Oliveira Carlos. Ali, publiquei o poema “Contemporânea”.

E só. Guardo comigo uma imensa vontade de me tornar mais leve de novo.

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O DESEJO PROIBIDO

Se o desejo é sempre inconsciente

e não está relaciona do a um objeto real

como se pode cobiçar uma pessoa imaginária?

Se o anseio não é contestado pela lei

que o autoria, castrando,

então se ambiciona ainda mais o desejo proibido

a vontade de possuir o que não é permitido

a não concessão ao apetite voraz.

Se o desejo é marcado pela falta

e a castração pune esse anseio

estamos sendo severamente castigados

por ambicionar um ausente.

Imagine-se querer cobiçar o não consentido!

Será frustrando duplamente

que a lei estará justificando

o desejo proibido?

*  Marcos Cardoso é jornalista, autor de “Sempre aos Domingos: Antologia de textos jornalísticos”.

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