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Esparta ou Atenas

* Marcelo Rocha

Qualquer aluno de 15 anos do ensino regular sabe que Esparta e Atenas escreveram uma das maiores e emblemáticas contradições da História.

Vizinhas, eram dotadas de tantas diferenças que estudando-as em separado e desconhecendo-as contemporâneas, é possível crer que centenas de anos separam suas existências, dada a disparidade cultural.

Enquanto Atenas foi um dos berços civilizatórios da humanidade, Esparta optou pelo amor à guerra. O conjunto político grego nos legou o desenvolvimento da Democracia, o Espartano a Gerúsia (conselho de anciãos) e a manutenção da Diarquia (reino de dois Reis).

Esparta entendia a educação como instrumento (talvez como uma das formas que entendiam as mulheres como responsáveis por parirem espartanos vigorosos e aptos à guerra) responsável por difundir e fortalecer os valores militares. Basicamente o Espartano aprendia a escrever, o restante de sua educação era voltada a transformá-lo em guerreiro.

Atenas preocupava-se com o desenvolvimento cultural de forma universal, conciliando o físico com intelectual, bem próximo ao dito por Thales de Mileto ou por Juvenal – algo que pouco importa nesse momento –  frase “Mens sana in corpore sano”.

Por hora, é suficiente ilustrar o legado de Atenas que ofereceu ao mundo Sócrates e Platão, para muitos os dois mais importantes filósofos do mundo, enquanto Esparta nos deixou guerreiros como Leônidas e Lisandro. A herança ateniense influencia o desenvolvimento da civilização.

Deste contexto, podemos fazer comparação com a sociedade em que vivemos.

O “pensamento” passou a vigorar, nos últimos anos de um modo meio Espartano. Tudo sem reflexão, na base da força e da vontade de destruir o que se julga inimigo. Termos como “simples assim” ou “sem muita filosofia”, além de outros convictos que o pensar não se relaciona com a realidade, permeiam o discurso de ponta de língua do homem médio.

O homem médio, vítima da arrogância e do egoísmo próprio – além da ausência de incentivo à reflexão na educação formal – é aquele que se revolta com impostos e ao mesmo tempo exige serviços públicos similares aos da Noruega ou que são fiéis e raivosos defensores do Estado Mínimo, mas ou são ou sonham em ser funcionários públicos. Ou seja, não se enxergam como a enorme contradição ambulante que são.

Desse modo, quanto aos massacres recentes em presídios do norte do País, ao invés de se atentarem a fatos como a  entrada de armas como uma carabina cal. 12 no presídio de Manaus ou como as facções criminosas estabelecidas nos presídios já desafiam à décadas o poder público, preferem festejar o massacre dentro de uma ótica de que (exercitando o pensamento do ‘simples assim’, sem sequer saber se entre os mortos haviam presos provisórios, sem condenação) “se só morreu bandido, bem feito e está bom pra sociedade”.

Ou ainda achar um absurdo que as famílias dos mortos sejam indenizadas, desconsiderando que Estado precisa assegurar a integridade de qualquer pessoa que esteja sob sua tutela, mesmo os criminosos condenados, pior os provisórios.

Como disse, queremos serviços públicos no mesmo padrão do Norueguês, mas em relação aos que são diferentes queremos o padrão nazista.

Pensamos (?) como os Espartanos, mas temos certeza que somos Atenienses!

P.S Nas escolas, até dia desses, dizia-se que os Espartanos jogavam os recém nascidos defeituosos em um precipício. Parece lenda, mas é fato que os espartanos torturavam, matavam e/ou jogavam em uma caverna no pé do Monte Taygetos, seus inimigos do Estado, traidores e criminosos. Será que “lá tinha” facção?

* Marcelo Rocha é capitão da Polícia Militar de Sergipe

 

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