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Deus, Pátria, Família e Liberdade

Por Eduardo Marcelo Silva Rocha *

Muito se ouve falar no polinômio “Deus, Pátria, Família e Liberdade” como expressões de valores essenciais ao nosso povo. Especificamente, isso vem sendo usado como mote para amealhamento de votos nas últimas campanhas eleitorais.

É bem verdade que um agrupamento de pessoas somente tende a prosperar quando compartilha valores, o que nos leva ao campo ético/moral, entendendo a Ética como esse tal conjunto de valores e o Moral (moral, imoral e amoral) sendo as escolhas – coerentes ou não com tal sistema – que cada indivíduo faz dentro dele. E valorizar esses institutos é sim algo pertinente.

Diante disso, podemos avaliar o primeiro elemento: “Deus”. Via de regra, a fé professada em nosso país é a advinda dos ensinamentos bíblicos, que seriam originários de Deus/Cristo, que nos deixaram mensagens de amor, fraternidade e respeito “amai-vos uns aos outros – não matareis – não julgueis”.

O legado que temos é basicamente um sistema ético de condutas (perdoem a redundância necessária), que fundadas no amor ao próximo e no amor aos ensinamentos divinos devem nortear nosso caminho.

Afinal, tal qual um pai que ama e ensina seu filho, o maior legado de amor que  o filho pode devotar a esse pai é viver conforme foi educado. Certamente um pai será mais feliz diante de um filho com escolhas morais benéficas à sociedade, do que aquele que o filho tem um altar de adoração seu em casa, mas na rua não passa de um crápula.

Ao mesmo tempo, vestir a bandeira de um país, carregar bandeirinhas e pintar a cara das cores da bandeira não faz de ninguém um patriota. O patriotismo é um sentimento de pertencimento a um local, que existe com formado através do conjunto de coisas e pessoas.

Devotar-se conscientemente ao seu torrão natal é aceitá-lo como ele é e buscar lhe prestar serviços. Mas para que se possa fazer isso com efetividade, é necessário entender quais são as demandas que sua terra necessita, o que em regra se liga às necessidades de todos os seus nacionais e não de um ou outro grupo que se julga acima dos demais e, por isso, crê ser o dono das verdades, dando importância apenas às próprias demandas. Não à toa que Samuel Jonhson identificou que os canalhas, quando lhes falham todos os recursos para materializar sua infâmia, recorrem ao patriotismo como arma última – no caso, usando-o como escudo ético para esconder suas reais intenções.

A família é de fato importante núcleo da nossa sociedade. Independente das melhores e piores variações que possam haver, o funcionamento amplo das sociedades tende a exigir núcleos familiares para a sua perpetuação. Mesmo alguns animais irracionais vivem em grupos que lhes asseguram a reprodução da espécie, através da segurança alimentar e integridade física, por exemplo, imagine o homem, que após  o nascimento necessita de acompanhamento e supervisão por anos, até ser capaz de viver dependendo só de si.

Assim, de modo prático, o respeito à família também não se trata de uma forma de adoração fanática, mas muito mais ao pragmatismo de se construir um lar no qual se permita viver em harmonia, permitindo o ser e construindo cidadãos aptos à vida em sociedade – dentro de um sistema ético fraterno.

É verdade que, lamentavelmente, existam rupturas e os lares se desfaçam, isso não é o ideal, mas sim fruto da própria contradição da racionalidade humana, que (algumas vezes) formam famílias como se estivessem vivendo uma efêmera aventura. Seja como for, infame é alegar defender a família e viver desrespeitando a própria, através da infidelidade conjugal ou mesmo privando os filhos das coisas para sustentar as aventuras sexuais.

A ideia de liberdade é intimamente ligada à questão da pátria. Uma sociedade precisa ser livre para poder evoluir, afinal, o mundo somente evolui a partir da dúvida, se vivêssemos de certezas, certamente ainda estaríamos na idade da pedra. Para que o homem possa se inquietar e promover novas descobertas, ele necessita ser livre para pensar e se manifestar. Ora, a liberdade é uma das bases da democracia. Mas ocorre que a Ciência Jurídica ensina que não existe direito absoluto, sempre haverá algum limite, inclusive para a liberdade, logo, o direito de liberdade não pode estar, por exemplo, acima da lei penal.

Além disso, meio que dando razão, em paralelo, a Samuel Johnson, há quem defenda a liberdade para sí, defendendo que seu direito a ela lhe permite cometer crimes impunemente, ao mesmo tempo se esmera em tolher esse mesmo direito daqueles que pensam diferente deles. Para estes, destruir, calar, “acabar com a raça” e expulsar do país são opções válidas.

Assim, apesar dos valores corretos que se encerram nos conceitos de “Deus, Pátria, Família e Liberdade”, existem grupos de pessoas que em prol dos seus próprios interesses pouco se importam com a corrupção moral que promovem ao assim agirem.

Talvez se Samuel Johnson (que criticou os canalhas, não os patriotas) vivesse hoje, acrescentasse três termos a essa sua mais famosa frase: “O patriotismo é o último refúgio de um canalha”.

* É tenente-coronel da Polícia Militar de Sergipe.

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