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Ana Lúcia: uma mulher politica diferenciada

Por Afonso Nascimento *

Ana Lúcia é uma política brasileira filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), que recentemente se retirou da política. Uma mulher de ação – eis o que ela é, fortalecida nas lutas pelo poder nas diversas arenas políticas em que tem atuado. Pessoas próximas dela dizem que suas convicções políticas podem ser buscadas no marxismo, no socialismo, em leituras feministas e – quem sabe? – no próprio catolicismo de sua infância e adolescência, pois afinal ela estudou um tempo em escola católica. Foi professora, técnica em educação, liderança sindical e mulher política com dedicação exclusiva.

É uma boa oradora, mas seu estilo é um tanto pesado, didático e contundente. Salvo engano meu, deixou poucos trabalhos escritos (https://jlpolitica.com.br/coluna-aparte/ana-lucia-menezes-em-2018-uma-nova-etapa-da-mesma-luta e três brochuras -“Leis e outras proposituras”, “Nas Ruas” e “Parlamento e Sociedade” – com textos sobre o seu desempenho político dentro e fora da Assembleia Legislativa, com fotos do seu trabalho. Os seus discursos na Assembleia Legislativa não foram publicados). Considero que o carisma dela consiste na confiança nela depositada por seus seguidores por suas repetidas ações em defesa das categorias e dos grupos que ela diz representar.

São desconhecidos registros históricos de alguma participação de Ana Lúcia contra a regime militar. Ela não recebeu qualquer influência de ideias de esquerda de seus pais. O seu pai pertencia à pequena burguesia sergipana e sua mãe, cujas origens estão na tradicional família Sobral de Itaporanga, era dona de casa e muito envolvida em trabalhos voluntários na Igreja Católica. Do seu pai não biológico, mas afetivo, também não recebeu influência ideológica. Osman Hora Fontes foi durante anos o procurador-geral da República em Sergipe, que tinha simpatia muito discreta pela luta da juventude universitária contra o regime político autoritário que mandava no Brasil. Ela me disse que foi ele quem lhe deu um exemplar do livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire. Ela pode ter tido alguma influência de seus professores da UFS e de seus professores de pós-graduação em São Paulo, mas isso é trabalho para seus futuros biógrafos.

Ana Lúcia estudou no Colégio São José e no Colégio Brasília, duas escolas de elite onde ela diz ter tido militância secundarista. No período em que foi estudante universitária de Pedagogia da UFS, nenhuma evidência foi encontrada de qualquer participação política sua. Em contrapartida, sobre o seu irmão Mário Jorge, documentos oficiais afirmam que foi membro do Partido Comunista (PCB), tendo sido preso e respondido a processo na Justiça Militar em Salvador. A militância de esquerda contra a ditadura militar de seu irmão levou Ana Lúcia a ter contato com comunistas sergipanos e de fora de Sergipe, mas isso nunca fez dela uma militante comunista. Fazendo buscas em arquivos do SNI disponíveis ao público, só encontrei referência a seu nome em um evento sobre educação ocorrido em Aracaju, numa lista com outros participantes do encontro de especialistas em educação.

(A deputada Ana Lúcia foi ao encontro da Comissão da Anistia quando esteve em Aracaju em 2009. Ela fez saber que renunciava a qualquer indenização relativa a seu irmão Mário Jorge, perseguido pelo regime militar. Queria apenas o reconhecimento estatal de que seu irmão foi perseguido, foi preso, respondeu a processo militar por fazer resistência ao regime dos militares.)

Ela escreveu que se aposentou com mais de trinta e cinco anos pela rede estadual de ensino. Parece haver um erro na sua narrativa aqui. Ana Lúcia sempre foi uma servidora pública, antes e depois de fazer concurso público para o magistério público estadual. Juridicamente, ela permaneceu todo esse tempo como funcionária pública, mas, concreta e factualmente, ela passou dezesseis anos como deputada estadual (sendo, portanto, funcionária pública duas vezes!) e cerca dez anos como liderança do sindicato dos professores estaduais (também funcionária cedida ao sindicato). É o período anterior à sua militância sindical que deve ser reconhecido como trabalho na área do magistério e não por pouquíssimo tempo, como escrevi antes. Ana Lúcia acha que teve uma carreira meritocrática no tempo antes de ingressar na luta sindical. Pode até ter sido assim, mas a força de relações pessoais certamente pesou nos diversos espaços que ocupou antes e depois do ingresso através de concurso na rede estadual de ensino. Se ela foi “dondoca” ou “patricinha”, isso parece um preconceito de classe social e não é nenhum defeito.

A sua vida política, enquanto liderança sindical e deputada estadual, está povoada de muitas greves dos professores por melhores salários e pelo progresso nas condições de trabalho desses funcionários públicos. De quantas greves Ana Lúcia participou, enquanto representante do magistério estadual, em mais de trinta anos de vida pública? É possível dizer que participou de todas as greves como sindicalista e como política de 1992 a 2918. Imagine todas as greves em cerca de trinta anos, precisando ser uma greve por ano, claro. Posso dizer que, acertando ou errando, ela contribuiu para conquistar melhores salários e condições de trabalho e para elevar a auto-estima de uma categoria profissional que não gozava do respeito e do reconhecimento social merecido. Com Ana Lúcia e o seu grupo à frente do sindicato, direta ou indiretamente, o SINTESE passou a ser uma constante dor de cabeça para qualquer secretário de Educação.

A deputada estadual Ana Lúcia também se envolveu em greves de outros sindicatos estaduais, mostrando solidariedade de muitos modos (discursando, participando de atos públicos, etc.). Também tem estado próxima das lutas da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

* É professor de Direito das Universidade Federal de Sergipe

Texto publicado originalmente no blog Primeira Mão

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