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A volta da alquimia

Por Antonio Samarone *

Fui a uma pequerna farmácia na Gameleira, em Aracaju, procurar por Elixir Paregórico. Nada, o rapaz nem sabia do que se tratava.

Depois decobri que se vende pela Internet.

Dor de barriga não dá uma vez só. Mamãe abusava do elixir peregórico. Esse milgroso remédio, não faltava em casa. A nossa dispensa era abastecida pelo Dr. Flodualdo, um prático em farmácia, que foi o meu pediatra. Não existia SUS.

Antes dos rémedios industrializados, os remédios vinham em forma de elixir, xaropes e laúdamos. Os remédios possuiam funções simbólicas e mágicas. Eram eficazes placebos.

Elixir Paregórico era uma tíntura de ópio camphorado, um fitoterápico, indicado para cólicas intestinais infantis, a famosa dor de barriga. A bula indicava 0,05 ml de tintura de Papaver somniferum L., equivalente a 0,05% ou 0,5mg de morfina [marcador]. Excipientes: ácido benzoico, canfora, essência de anis, álcool etílico e água purificada.

No grande Beco Novo, se cultivava a Papaver somniferum nos quintais, era chamada de dormideira. No quintal de dona Maezinha, a dormideira formava uma matagal.

Não se assustem, paregórico é sinônimo de calmante, no português arcaico. O ópio em pequenas doses é calmante.

O elixir paregórico é antigo, encontrado na farmacopeia de Londres, de 1721.

Hoje, a medicina anunciou a descoberta da verdadeira panacéia, um elixir da longa vida, que não deixa de ser paregórico. Os derivados da maconha é uma antiga novidade, milenar, promete felicidade e bem estar para todos.

A medicina de mercado, onde a principal evidência é o lucro, rompe as barreiras dos preconceitos. O bem estar não tem preço.

Maconha nas farmacias é muita cara, só para os do andar de cima.

O meu corpo apresentou sinais de desobidiência, insiste em retornar velozmente ao pó. Busco uma saída!

Perdi a confiança em meu corpo. Ele é quem decide quando deve cair e onde. Muitas vezes força a barra, cai por que qualquer escorregão.

Ele começou a doer só de pirraça.

Eu não subo em escadas, nem por ordem judicial.

O corpo não é mais a abominável veste da alma, como aprendi em minhas aulas de catecismo. Para a ciência o corpo é tudo, corpo e alma. Como eu não aceito esse derrocada, o meu corpo começou a sabotar-me.

Isso mesmo, o meu catecismo foi o de Trento (1563). A igreja católica em Itabaiana, seguia os ritos da Contra-Reforma, até o Vaticano II. Por isso, ainda insisto que possuo uma alma, quem sabe, até um velho anjo da guarda aposentado.

Deixando claro: eu não sei se a minha alma é imortal. Espero que seja. Ainda é uma alma analógica.

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana

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