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Maioria dos homens ainda culpa mulher por estupro

78% dizem não interferir em brigas de casal ou interferir apenas se houver alguma violência extrema

Pesquisa apresentada hoje (7) no 4º Fórum Fale sem Medo, em São Paulo, feita pelos Institutos Avon e Locomotiva, mostrou que 88% dos entrevistados acreditam que ainda há muita desigualdade entre homens e mulheres na sociedade brasileira. Apesar de 85% dos homens concordarem que todos os pais devem educar os filhos para ser menos machistas, 43% deles dizem pegar mal reclamar de um amigo que compartilha fotos de mulheres nuas em grupos privados de homens.

Para 48% dos entrevistados, é desagradável ou humilhante o homem cuidar da casa enquanto a mulher trabalha fora e apenas 35% acham que cabe ao homem ajudar a mulher.

Depois de ouvir 1.800 pessoas de 70 cidades, a pesquisa indicou que, apesar das críticas ao machismo, na prática, as atitudes mostram tolerância a comportamentos machistas, já que  78% dizem não interferir em brigas de casal ou interferir apenas se houver alguma violência extrema. O levantamento revelou que 61% consideram que a mulher que se deixou fotografar também tem culpa quando um homem compartilha suas imagens íntimas sem autorização nas redes sociais e que 27% acreditam que, em alguns casos, a mulher pode ter culpa por ser estuprada.

A pesquisa

O papel do homem na desconstrução do machismo –  mostrou que 78% das pessoas concordam que as mulheres devem conhecer seus direitos e ser incentivadas a lutar por eles; 59% disseram que todas devem ser respeitadas, não importando sua aparência, nem seu comportamento; e 67% dizem que homens e mulheres devem ser igualmente responsáveis pelos cuidados com a casa e com os filhos.

O machismo é considerado negativo por 79% das pessoas. Apesar de 87% dos entrevistados concordarem que ao menos uma parte da população é machista, só 24% delas se consideram assim. A pesquisa também mostra que 24% dos homens não têm coragem de defender as mulheres no meio de outros homens e que 31% não gostariam de ser machistas, mas não sabem como agir.

Feminismo

Sobre as percepções a respeito do feminismo, 20% dos homens e 55% das mulheres se consideram feministas, mas 55% das pessoas dizem que o feminismo é contrário ao machismo e 32% acham que o feminismo está ultrapassado. Outros 44% afirmaram que chamá-los de machistas não os motiva a se engajar no enfrentamento à violência contra a mulher e 54% disseram ter tido uma conversa pessoal antes de mudar as atitudes.

“O simples fato de um quarto da população se admitir como machista mostra que este tema ainda tem muito o que avançar na percepção do quanto isso é errado. Sabemos que o conhecimento da maioria das pessoas sobre o tema ainda é muito superficial. O tamanho da oportunidade que se abre é a de que seis em cada dez homens – ou seja, 46 milhões de brasileiros adultos – acreditam que poderiam lidar com as questões femininas de forma diferente e melhor “, disse o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles.

A coordenadora de Projetos de Enfrentamento à Violência contra a Mulher do Instituto Avon, Mafoani Odara Poli Santos, disse que a pesquisa é um disparador de processos importantes de reflexão e transformação. “Trazemos nessa pesquisa de percepção dados superpositivos, mas ainda existe muita tolerância em processos e violências contra a mulher com um quarto dos homens acreditando que as mulheres têm culpa de serem estupradas. Esses dados contrapõem o que é percepção e o que é prática. Nas coisas mais básicas do processo de educação, as pessoas não conseguem mudar.”

A jornalista Jacira Melo, fundadora e diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, ressaltou que este é o momento oportuno para debater o assunto com os homens, se for analisado que há 36 anos mulheres do país inteiro protestaram, escrevendo nos muros a frase “quem ama, não mata”, em um momento no qual a violência contra as mulheres não era reconhecida como problema social grave.

“Tivemos um processo no qual as mulheres fizeram um verdadeiro levante no país dizendo: ‘basta de violência’, o que é um problema social, não é um problema de quatro paredes. Aprendi que ninguém muda ninguém e que os homens precisam mudar e se responsabilizar pelo machismo. Ao lado de uma mulher que sofre violência, há um homem que precisa mudar”, afirmou Jacira.

Fonte: Agência Brasil (Crédito/Geledés)

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