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“Yes, nós temos bananas!”

Por Marcelo Rocha *

Passei a semana passada toda pensando na música “Yes, nós temos bananas!”. Infelizmente, não por Braguinha – um dos compositores, talvez o mais famoso – ou por Carmem Miranda, que a cantou magistralmente. Como disse, infelizmente não!

Mas  por William Sydney Porter, que cunhou o termo “República de Bananas”, ao referir-se à Honduras, em um seu livro de Contos, datado de 1904.

O termo designa pejorativamente – de modo preferencial – países latinos americanos marcados por instabilidade política (não é à toa que houve um golpe de estado em 2012, naquele país), economia baseada em exportação de produtos primários, constituídos por uma sociedade bem dividida (e sem mobilidade) em grande contingente de trabalhadores empobrecidos e uma elite pequena, que controla a produção e explora os trabalhadores.

Além disso, totalmente submisso a um país rico. Nesse ponto, Sydney teria ficado orgulhoso se tivesse conhecido FHC – o nosso “príncipe dos sociólogos” – afinal, em uma de suas obras mais famosas, ele explica e defende como benéfica esse tipo de dependência. A tal obra é intitulada, sugestivamente de “Dependência na América Latina”…

Pois bem, além do show de horrores que os deputados protagonizaram no domingo, quando algo em torno de 367 deputados acolheram o “impeachment” (preocupados apenas com suas próprias famílias, na maioria) conforme suas repetidas declarações e os demais votavam contra (evocando trabalhadores, pobres e minorias) tivemos também  o show de horrores das pessoas que defendiam o afastamento da presidente,  mesmo sem existência de crime.

Enfim parecia um jogo de futebol dominado por crianças mimadas, que queriam vencer a qualquer custo, mesmo que significasse, no caso,  ficar contra todos ou subverter qualquer regra que se lhes opusesse. Mas conseguiram, é verdade!

Mas para cada uma delas temos um exemplo que bem as resume.

O primeiro é o caso da deputada de MG, Raquel Muniz, que ao declarar seu voto pró impeachment  “pela sua família”, citou o marido, elogiando seu trabalho na prefeitura de Montes Claros. O que ela não contava era que ele seria preso pela polícia federal no dia seguinte, por prejudicar o funcionamento das unidades do SUS da cidade, para beneficiar um hospital particular, pertencente à sua família.  https://br.noticias.yahoo.com/prefeito-elogiado-por-deputada-em-voto-a-favor-do-165559760.html

Frise-se que nesta terça feira ela reiterou todas as palavras ditas no domingo, à imprensa.

Sobre a voz das ruas, aquelas que não fazem idéia do que pode vir por aí, com a vitória do golpe – (além do total descrédito da imprensa mundial, que já disse nunca ter visto o “Brasil afundar tanto como Domingo!”) deixo o exemplo do Professor Clóvis de Barros, em magistral aula sobre o poder da ideologia:

“Quando eu passei no concurso aqui (USP) fui comemorar com a família, no Dinho´s Place na alameda Santos. Na saída, conversando com um dos funcionários da casa, ele disse que sabia quanto havia gastado no almoço e que esse valor seria maior que o salário dele. Eu então lhe perguntei:

– te parece justo que alguém gaste em um almoço mais que o seu salário mensal?

– sim, pois afinal de contas as pessoas que estavam ali eram doutores e tinham estudado. Diferente dele que não pode estudar, pois teve de trabalhar desde criança.

– te parece justo que uma tenham podido estudar tanto e outros tenham  que trabalhar desde cedo?

– sim, porque eu vim do nordeste e tinha que trabalhar pra completar o orçamento familiar e não dava pra estudar mesmo.

– te parece justo que alguns tenham que se deslocar de ondem moram pra trabalhar em outro lugar?

– sim”

Ele diz que fez diversas perguntas nessa linha do “te parece justo” e ele respondeu que sim. Portanto, ele explica que o funcionário era defensor do sistema, finalizando com um detalhe, ainda da fala do trabalhador:

– e tem mais um negocinho aqui, assim que acaba o expediente, a carne que sobra eles nos dão pra fazer um churrasco em casa!

Aquilo me revoltou e perguntei:

– te parece justo que vocês tenham que comer as sobras, se houver?

– tenho que dar graças a Deus, os caras tão dando a carne de primeira!”

(pano rápido)

* Marcelo Rocha é capitão da Polícia Militar de Sergipe

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