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Sergipe estuda impacto das redes de cerco nos estuários

A pesca com rede de arrasto é uma das mais prejudiciais ao meio ambiente

Com o objetivo de compreender a extensão do impacto causado pela rede de cerco nos estuários de Sergipe, o projeto ‘Escolhedeira: uma tecnologia social para reduzir o impacto da rede de cerco nos estuários de Sergipe’. Realizado pelo Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o projeto visa desenvolver, em parceria com pescadores e com a Escola Estadual Armindo Guaraná, em São Cristóvão, um método de pesca que reduza a mortalidade e a captura dos recursos pesqueiros na sua fase juvenil.

A iniciativa é contemplada pelo Edital nº 09/2022 – Tecnologias sociais com a gestão de investimentos, da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec/SE), e conta com a concessão de financiamento da Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura (Seduc).

O projeto é desenvolvido sob a coordenação do pesquisador e professor Mario José Fonseca Thomé de Souza. “A proposta do projeto é conhecer o real impacto das redes de cercos empregadas em Sergipe e, ao mesmo tempo, em conjunto com as comunidades pesqueiras locais, elaborar um equipamento de tecnologia social que melhore a seletividade das capturas nesta etapa do ciclo de vida, para que os mesmos possam crescer e ser capturados, reduzindo o tempo de manuseio e a mortalidade dos peixes na fase juvenil”, explica.

Rede de arrasto

O projeto visa conhecer o real impacto das redes de cercos

De acordo com o pesquisador, a pesca em Sergipe é realizada por d16 artes/métodos, entre eles os arrastos, que são considerados os mais prejudiciais ao meio ambiente por conta da baixa seletividade causada pelo tamanho de sua malha – normalmente dois centímetros entre nós opostos. Ele ressalta ainda que as atuais características dos arrastos são potencialmente prejudiciais ao meio ambiente, com impacto socioeconômico na pesca regional, sendo os estuários berçários para vários organismos e, ao mesmo tempo, importantes áreas de manutenção de bens e serviços para as comunidades locais.

Além disso, segundo Mario, o principal recurso pesqueiro capturado pelas redes de cercos em Sergipe é a ‘mistura’ – também chamada localmente de ‘miunça’ – e representa um terço de tudo que é capturado por este método. “A mistura não se refere a um grupo específico, mas a um conjunto de várias espécies de baixo valor comercial, composto quase que exclusivamente por peixes na fase juvenil. Há relatos de que uma parte substancial das capturas é descartada. Além da miunça, são registrados 59 grupos de recursos pesqueiros capturados. O número de espécies pode alcançar o dobro disso, indicando um impacto ainda maior nas fases juvenis de vários recursos pesqueiros”, enfatiza.

Diante desse cenário, o projeto pretende oferecer uma tecnologia social, de fácil uso e barata, e que possa, a médio e longo prazos, proporcionar a elevação da renda e o bem-estar social das comunidades pesqueiras, com impacto direto na redução da pobreza e na pressão sobre os recursos pesqueiros. O intuito é permitir que as espécies ditas juvenis possam escapar do impacto da pesca e se desenvolverem, aumentando a disponibilidade das espécies na região costeira de Sergipe.

Parceria com os pescadores

Em fase de finalização de testes, o equipamento chamado ‘Escolhedeira’ é desenvolvido em parceria com a Colônia de Pescadores Z-2, porto da sede de São Cristóvão, local de descargas das capturas da rede de cerco em Sergipe, com a Escola Estadual Armindo Guaraná e com a UFS.

Segundo o pesquisador, a Escolhedeira é uma solução que possui potencial para ser disseminada entre os pescadores como um acessório à rede de cerco principal. “Alguns exemplos semelhantes e exitosos foram implementados na Amazônia, o que resultou no aumento da seletividade e do tamanho dos peixes naquela região”, exemplifica Mário.

Para compreender a eficiência da Escolhedeira, os peixes retidos e os que ultrapassarem as malhas são registrados, utilizando os dados biométricos do comprimento padrão e da altura do corpo dos animais. Também são aplicados testes técnicos para avaliar a eficiência do equipamento.

Além da rede de arrasto com foco na seletividade de peixes, o projeto também envolve a preservação da fauna, estimula a economia criativa e realiza o mapeamento dos estuários de Sergipe: baixo rio São Francisco, Japaratuba, Sergipe, Vaza-Barris e Real/Piauí, com atividades e metodologias a serem empregadas por meio de mapas cartográficos previamente produzidos durante as descargas nos portos monitorados.

Os testes dos equipamentos acontecem no estuário do Vaza-Barris em parceria com os pescadores profissionais sobre os processos de manuseio da rede de cerco em conjunto com a Escolhedeira. Durante os testes, foram feitas adaptações do tamanho ideal da malha para a confecção da Escolhedeira em relação às medidas das malhas com formatos que podem melhorar a seletividade dos peixes.

Monitoramento

Todo o material coletado resulta no monitoramento do material biológico devidamente armazenado em sacos plásticos e etiquetado para análise no Laboratório de Avaliação dos Recursos Pesqueiros da UFS, onde os animais são conservados, separados e identificados por peso, comprimento total e altura.

Todo o material coletado é devidamente armazenado

Outra ação de monitoramento é focada na identificação das áreas de atuação das redes de cerco nos estuários de Sergipe, por meio de uma base de dados com informações compiladas com a data de captura, o local de descarga e a localidade de pesca.

Os resultados alcançados pelo projeto serão apresentados em evento aberto na colônia dos pescadores.

O processo de confecção e testes do equipamento já está em fase final, e há três protótipos criados na etapa de experimentação do projeto.

Iniciação científica

Alaelson da Conceição Santos é um dos participantes do projeto. “O desenvolvimento desta tecnologia social ajuda a gente a saber o desempenho da rede para diminuir a mortandade do peixe. Agora temos um incentivo para melhorar a pesca. Antes do projeto não tínhamos esse conhecimento. Nunca tivemos este tipo de pesquisa na nossa região”, observa.

Além dos pescadores, o projeto conta com a participação de estudantes da Escola Estadual Armindo Guaraná e da UFS. Bolsistas de iniciação científica, os estudantes Leonam de Santana Moraes e Fábio Kauan da Silva Santos, da Escola Estadual Armindo Guaraná, relatam que a experiência é um incentivo para uma futura carreira científica.

“A partir dessa iniciativa, descobri novas habilidades de pesquisa. Aprendi a medir, pesar e analisar bem as espécies. Eu planejava ir para a área de engenharia, e agora tenho certeza de querer cursar a área específica da engenharia de pesca da universidade”, diz Leonam, estudante da 1ª Série do ensino médio.

Novos aprendizados

Assim como ele, Fábio Kauan conta que o projeto proporciona novos aprendizados. “Está sendo uma experiência muito boa para mim. Por meio da bolsa, desenvolvemos o interesse rumo à engenharia de pesca, e por meio do projeto aprendemos sobre novas espécies e fizemos várias descobertas”, pontua.

Para o estudante de Engenharia de Pesca da UFS e bolsista de Iniciação Tecnológica da Fapitec/SE, e participante do projeto, Matheus Luan da Rosa Bosse, o projeto representa uma oportunidade de proporcionar uma rica troca de experiência entre pescadores e estudantes. “Conhecemos a realidade da pesca com os pescadores da região, especialmente sobre as espécies existentes, que são chamadas por eles por nome popular. Muitas espécies continuam desconhecidas pela população, e por isso a importância da sua identificação”, avalia.

O pesquisador e professor  da UFS, Mario José Fonseca Thomé de Souza, coordena o projeto

Da mesma forma, o estudante Luís Daniel Campos Santos, também participante da ação científica chama a atenção para a importância da experiência. “Ampliar o conhecimento das espécies capturadas e estudar a prática de pesca de rede de cerco em Sergipe é uma oportunidade de entender e garantir a preservação ambiental. O projeto trata de um tema muito importante da necessidade do engajamento socioambiental que envolve a ciência, a pesquisa e a tecnologia”, diz.

Assim como ele, o estudante Antony Alburquerque Marques Nascimento considera que o projeto é uma oportunidade de participar e interagir com novas metodologias de tecnologias sociais.

De acordo com o presidente da Fapitec/SE, Alex Garcez, o projeto mostra de forma bastante exitosa como os editais realizados pela Fundação contribuem para o desenvolvimento socioeconômico de Sergipe. “Por meio desse projeto, vemos o quanto é positiva a realização de editais voltados para tecnologias sociais e como resultam em pesquisas que, de fato, podem contribuir para melhoria social, econômica e, neste caso específico, ambiental do nosso estado”, salienta.

Educação ambiental

Além da construção de dados científicos, o projeto pretende implementar ações de educação ambiental na escola, com a elaboração de um material didático para divulgar o processo e os resultados obtidos durante a realização da iniciativa.

O projeto também organiza oficinas participativas com a colônia de pescadores para discutir adaptações de tamanho em medidas das malhas com formatos que podem melhorar a seletividade dos peixes. Todo o processo de confecção do material é feito de forma coletiva, incluindo a definição das malhas, o formato e o método de uso. Os resultados alcançados pelo projeto serão apresentados em evento aberto na colônia dos pescadores no final da sua execução.

Fonte e foto: Secom/GS

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