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Pandemia suspende a procissão dos Penitentes

Os Penitentes percorrem cruzeiros, santa-cruzes de beira de estrada e cemitérios

A tradicional procissão dos Penitentes de Nossa Senhora das Dores não ocorrerá este ano devido a pandemia da covid-19. Realizado há mais de 100 anos naquele município sergipano, este evento religioso acontece sempre na Sexta-feira da Paixão, quando centenas de homens vestidos de branco e com capuzes nas cabeças percorrem cruzeiros, santa-cruzes de beira de estrada e cemitérios, rezando por eles e pelos que já estão em outro plano.

Mesmo com a pandemia, os terços continuam sendo rezados nas casas dos Penitentes. Segundo o professor João Paulo Araújo de Carvalho, um estudioso do assunto, a exemplo do que ocorreu em 2020 quando a procissão foi cancelada por causa da covid-19, este ano devem ser escolhidas 15 casas de Penitentes para a realização da tradicional Via-Sacra na Sexta-Feira da Paixão. Respeitando todos os protocolos sanitários, este ato religioso permitirá que quem fez promessa possa honrá-la.

Pés descalços

Em Nossa Senhora das Dores, muitos prometem atuar como Penitentes por sete anos. Há casos de dorenses que, mesmo já tendo ido embora, retornam ao município na Semana Santa para pagar o prometido. Vale lembrar, que alguns Penitentes e Beatas fazem todo o percurso da procissão com os pés descalços, tornando sua caminhada ainda mais dolorosa e ajudando a manter viva a devoção à Paixão e Morte de Cristo em terras sergipanas.

Destaquenoticias – Os Penitentes de Nossa Senhora das Dores representam uma tradição secular. Hoje, o grupo é formado por quantas pessoas?

João Paulo – É uma tradição de mais de cem anos, tendo surgido no final do século XIX, época de muitas epidemias e secas, como meio de rogar a Deus pelas almas dos falecidos e como penitência pelo fim de tantas mortes. A prática foi sendo passada de geração a geração através de promesseiros que cumpriam seu compromisso de fé, geralmente, por sete anos. Muitos filhos sucedem seus pais na caminhada de fé. Realizada pela última vez em 2019, em virtude da pandemia, naquela oportunidade a procissão dos Penitentes de Nossa Senhora das Dores reuniu cerca de 500 homens.

DN – Qual a receptividade dos dorenses com os Penitentes?

JP – Uma multidão de dorenses e visitantes lotam as ruas da cidade e da periferia para assistir à penitência, que é reconhecida como parte da cultura local. Em 2015, o Projeto Memórias, uma iniciativa de resgate da história local, conseguiu a aprovação da lei estadual 8051, de 22 de outubro de 2015, que reconheceu as procissões penitenciais realizadas em Nossa Senhora das Dores na Semana Santa como patrimônio cultural imaterial de Sergipe.

DN – Em anos normais (sem pandemia), além da procissão, quais os outros eventos religiosos realizadas em Dores durante a Semana Santa?

JP – Além da procissão dos Penitentes, ocorre na cidade, sempre na Sexta-feira Santa, as procissões do Cruzeiro do Século (nascida em 1983), do Madeiro (final do século XIX) e do Senhor Morto (componente da liturgia da Igreja Católica e criada na cidade em 1940). No povoado Gado Bravo Norte, na quinta-feira da Semana Santa, também se realiza uma procissão de Penitentes há mais de 80 anos. Portanto, a prática penitencial é parte importante da história, da cultura e da identidade dorense, a qual se denomina dorensenidade.

DN – Geralmente, eles percorrem quantos quilômetros por noite em suas penitências?

JP – A procissão dos Penitentes percorre pouco mais de 20 km na noite da Sexta-feira Santa e primeiras horas do sábado.

DN – Em algumas cidades, a Igreja Católica não tem bons olhos para os Penitentes. Qual a relação do Grupo de Dores com a Igreja?

JP – Até o final da década de 1970, a prática penitencial em Nossa Senhora das Dores não era bem vista pela Igreja Católica, chegando a ser denominada de pagã. Desde 1979, no entanto, os sacerdotes têm adotado a postura de acolhimento da fé penitencial, inclusive com a abertura das portas da Igreja Matriz da cidade para que o grupo realize suas orações. Desde meados dos anos 2000, vários sacerdotes têm marcado presença nessa última estação da procissão e concedido sua bênção aos fiéis.

DN – Em Dores os Penitentes rezam durante toda a Quaresma ou só na Semana Santa?

JP – Há quase 20 anos, o grupo se prepara rezando o terço em vários pontos da cidade (capelas, cemitérios, cruzeiros, residências) durante toda a Quaresma. A procissão penitencial, no entanto, ocorre exclusivamente na Sexta-feira Santa.

Vídeo produzido e editado pelo jornalista Dida Araújo

 

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