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Os “Sem Floresta” da Zona de Expansão de Aracaju

À população de mais de 60 mil habitantes da Zona de Expansão de Aracaju (ZEA) soma-se outra parcela de moradores que prega sustos em quem mora na região, mas que também diverte àqueles que passam pelo local. São as capivaras, jacarés, gaviões, cobras e até raposas, animais característicos da área que, com o adensamento populacional, foram perdendo espaço e se acomodando nos lugares de mata que ainda restam ou nas lagoas do Tecarmo, bem como àquelas próximas aos residenciais e condomínios.

Nos últimos 15 anos, dezenas de casas e apartamentos foram construídas na ZEA. Só a Prefeitura de Aracaju entregou, entre julho de 2001 e dezembro de 2007, 2.420 casas de 11 residenciais do Programa de Arrendamento Residencial (PAR). Após esse programa, surgiu o Minha Casa, Minha Vida que realizou, também, o sonho da casa própria de milhares de pessoas. Recentemente, entre 2011 e 2012, uma construtora concluiu dois grandes condomínios de apartamentos, totalizando 252 unidades habitacionais. Um levantamento do Ministério Público Federal mostrou que, só a Caixa, financiou naquela região até 2008, 72 empreendimentos.

A chegada de novas casas e apartamentos na região triplicou a população da Zona de Expansão De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1996, a população da ZEA era de 19.924 habitantes. Em 2010, esse número pulou para 61.374 habitantes.

Sem estresse

O crescimento populacional na região acabou reduzindo o espaço dos animais comuns da região. Nas lagoas do Tecarmo, por exemplo, são dezenas de capivaras que fazem a alegria da criançada e despertam a curiosidade de adultos que passam pela Avenida Melício Machado. A Petrobras não sabe informar quantos animais têm nas lagoas e esclarece que apenas monitora o deslocamento deles para evitar que passem para as áreas de produção e administrativa. Nas lagoas, cercadas de vegetação rasteira, vivem jacarés, peixes e capivaras.

A proximidade com o homem e a exposição excessiva não causam danos aos animais, de acordo com a analista ambiental Glaucia Maria Lima Bispo, do Núcleo de Fauna/Divisão Técnico-Ambiental-Ditec da Superintendência do Ibama em Sergipe. Ela explicou que as capivaras costumam habitar áreas alteradas pelo homem já estando bastante adaptadas.

“Na área do Tecarmo ocorre uma convivência harmônica entre os servidores da Petrobras e os animais da área, incluindo jacarés, que muitas vezes são alimentados, só sendo relatados problemas quando, por exemplo, jacarés conseguem atravessar as cercas e cruzar a pista, pois correm risco de atropelamento ou de causar problemas à população próxima da área ou quando são encontrados em lagos de condomínios”, explicou.

Diversão e sustos

Além de ser pacífica, é divertida a presença desses animais para quem passa pelo local e é sempre tentado a dar uma espiadinha nas lagoas do Tecarmo. A historiadora Lucilla Menezes faz isso rotineiramente. Ela mora na Aruana e costuma passar diariamente pela avenida. Quando pode, chega a parar o carro para ver melhor, junto com a filha Maísa, as famílias de capivaras que passeiam pelas lagoas. “Ela adora, e eu também. É interessante ver este ‘parque de capivaras’ aqui, pertinho de onde a gente mora. Esta região aqui sempre foi o espaço delas e de outras espécies, que vem sendo tomado com o crescimento populacional e o progresso. Mostro isso a minha filha e converso com ela sobre a importância de preservar a natureza”, afirma.

O aposentado Ataídes Ribeiro mora no loteamento Aquarius há oito anos e já perdeu as contas de quantos saruês, corujas, jacarés já viu e os sustos que tomou ao se deparar com alguns desses animais dentro de casa. “De vez em quando, os saruês entram no meu quintal. Já os jacarés, esses não entram em casa, mas estão lá, na lagoa, bem em frente a minha casa e eu os vejo sempre”, disse o morador.

De vez em quando, os jacarés, capivaras, corujas e até raposas costumam sair da toca e se aproximar mais dos homens, como na casa de seu Ataídes. Nesses casos, o pelotão ambiental da Polícia Militar é convocado para capturar esses animais. De acordo com o 2º sargento do pelotão, Acácio Ferreira Melo, entre 2014 e janeiro de 2015, foram capturadas oito raposas e seis capivaras, essas últimas, três delas levadas para as lagoas do Tecarmo.

Mata Atlântica

“É importante deixar claro que a Zona de Expansão de Aracaju está inserida em área que poderia ser classificada como do Domínio da Mata Atlântica e ecossistemas associados que são as formações de restinga, áreas costeiras, envolvendo as praias, e de manguezais, no complexo estuarino”, ressaltou Gláucia Bispo.

Segundo informações passadas por Gláucia Bispo, as capivaras, (Hydrochoerus hydrochaeris), são os maiores roedores do mundo. Herbívoros, costumam pastar gramíneas e outras plantas, tendo nas áreas de restingas um ambiente propício para viver. Áreas de restingas contêm vegetação rasteira, arbustiva ou até mesmo arbórea, geralmente de terrenos arenosos de influência de rios e mar em que o lençol freático aflora naturalmente, formando lagoas naturais e áreas brejosas onde as capivaras e outros animais ocorrem naturalmente. Além das capivaras, são comuns na região o avistamento de aves, raposas e jacaré-de papo-amarelo, típicos dessas áreas.

Ibama de olho

A ambientalista chama a atenção para o licenciamento ambiental de empreendimentos que prevê mecanismos que minimizem o impacto sobre a fauna preexistente no local. “O licenciamento da área prevê a contratação de equipes e profissionais habilitados que façam o levantamento dessas áreas e depois efetuem o manejo ou o resgate, dando o tratamento adequado para esses animais, devendo as licenças ou autorizações serem emitidas pelo órgão licenciador”, ressaltou.

Ela acrescentou que o ônus da implantação não deveria retornar para as instituições públicas, “uma vez que os empreendedores lucram implantando esses negócios e depois a população, incomodada pela fauna que migra, recorre aos Bombeiros, Pelotão Ambiental e ao Ibama para fazer o resgate desses animais”, complementou.

Orientações

“Ressalto também que entre as medidas é previsto que as equipes contratadas façam um trabalho educativo/ informativo de caráter preventivo que informem sobre essa fauna que poderá estar migrando ou causando algum transtorno para a população, orientando e inclusive evitando que as pessoas agridam desnecessariamente os animais ou evitando acidentes”, finalizou a analista ambiental Glaucia Bispo.

Por Célia Silva (Publicado originalmente no Jornal da Cidade) (Crédito/flickrhivemind.net)

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