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O fumo d’Angola

Por Antonio Samarone *

A medicina transformou o (CBD) Canabidiol (C21H30O2), substância presente na Cannabis sativa, em panaceia. Serve para quase todos os males. Virou uma especialidade médica.

O uso medicinal da maconha é milenar.

A marijuana recuperou o status de medicamento. O uso terapêutico dos entorpecentes é comum, basta lembrar os componentes do ópio.

Contraditoriamente, a medicina condena o uso do tetra-hidrocarbinol (THC), canabinóide com propriedades psicotrópicas e alucinógenas, por causar dependência. Gente, isso é hipocrisia, a indústria farmacêutica inunda o mercado, com produtos que causam dependência. Na verdade, condena o seu uso recreativo.

Em Sergipe, o Dr. Aristide Fontes relata que no alvorecer do século XX, os pescadores de Pirambu usavam o Pito do Pango, em suas aventuras marítimas:

“Pescadores habituados usam a maconha quando se encontram no mar em canoas ou jangadas. Fumam em grupos para se sentirem mais alegres, dispostos ao trabalho, e menos penosamente vencerem o frio e as agruras da vida do mar…”

Prossegue o médico:

“Depois de algumas fumadas, tocados pelo efeito da maconha, tornam-se alegres, conversadores, íntimos e amáveis na palestra; uns contam histórias; tais fazem versos; outros têm alucinações agradáveis, ouvem sons melodiosos, como o canto da sereia, entidade muito em voga entre eles.”

Essas histórias rolavam na Atalaia Nova, quando comecei a frequentá-la na época de estudante.

O psiquiatra sergipano Garcia Moreno, excomungava a maconha, fonte de vícios e crimes. Apontava a ação patogênica da maconha, podendo causar: eretismo cerebral; melancolia subaguda; esquizoidia; demência precoce; delírio alucinatório auditivo e confusão mental. Demência precoce é a atual esquizofrenia.

Historicamente, os médicos estiveram na linha de frente da demonização da maconha. Hoje, lideram o seu uso medicinal.

O clássico trabalho de outro médico sergipano, Rodrigues Dória, “Os fumadores de maconha. Efeitos e Males do Vicio”, apresentado ao Segundo Congresso Científico Pan-Americano, reunido em Washington D. C., a 27 de dezembro de 1915, foi o primeiro.

Outro médico sergipano, Eleyson Cardoso, afirmava:

“É principalmente no norte do Brasil onde sei achar-se o vício de fumar a maconha, mais espalhado, produzindo estragos individuais e dando, por vezes, lugar a graves consequências criminosas.”

Hoje, o médico sergipano Dr. Pedro da Costa Melo, lidera no Nordeste, os estudos sobre o uso medicinal da maconha. Um pouco de bairrismo: o doutor Pedro é Itabaianense, filho de uma comuna histórica.

Concordemos ou não, o protagonismo da Cannabis voltou pelas mãos da poderosa indústria farmacêutica.

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.

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