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Centro Operário Sergipano

Por Gilfrancisco Santos *

Entidade cuja sede estava localizada à esquina da Rua Santo Amaro com Geru, nº371, é a mais antiga sociedade operária criada em Sergipe. Foi fundada em 1º de maio de 1911 com os esforços dos próprios operários, construída pelos próprios interessados, que carregavam pedra por pedra, tijolo por tijolo a fim de erguer uma casa onde os trabalhadores pudessem se congregar e melhor lutar por melhorias sociais. O Centro Operário Sergipano, juridicamente é uma sociedade civil, congregando trabalhadores de todas as categorias e também intelectuais que queiram ajudar a causa dos trabalhadores, os nossos Estatutos são os mais avançados das sociedades de Sergipe. Até a divulgação das ideias socialistas está filtrada nas suas finalidades. Órgão associativo, mutualista e educacional, são seus fundadores: Antonio Aquino Melo, Manuel Julio da Silva, Antonio Alves, Pedro Matos e outros. A data da fundação do Centro, desde a II Internacional, em 1889, fora instituída como comemorativa do dia do Trabalho, em homenagem às vítimas de Bufalo e Pittsburg, dois anos antes.

Local onde funcionou o Centro Operário/Foto: José de Oliveira Brito Filho (Clique na foto para ampliar)

As comemorações da Festa Operária do dia 1º de Maio de 1911 e a inauguração do Centro Operário Sergipano fora registradas no jornal O Estado de Sergipe:

“Com o esplendor compatível com os seus recursos, realista, amanhã o operariado aracajuano brilhante festa, em honra a data de 1º de Maio. Ao amanhecer do dia 1º, será rezada com solenidade uma missa campal, à Praça de Palácio, sendo oficiante o revm. Cônego João Florêncio.

Às 11 horas se efetuará no paço municipal uma sessão magna, sendo orador oficial o inteligente major Olegário Dantas, instalado o Centro Operário Sergipano e proclamada a sua primeira diretoria.

Após a sessão sairá em procissão cívica o Estandarte do Centro, até a Escola de Artífices, assistindo o operariado a inauguração dessa Escola, ficando ali depositado o Estandarte até às 4 horas da tarde, quando percorrerá as nossas Ruas com um lindo carro alegórico o operariado, fazendo estação na Praça de Palácio”.[1]

A Escola de Aprendizes Artífices funcionava no edifício situado à Rua Lagarto, esquina com Maruim, pertencente ao Ministério de Agricultura e Comércio, com a presença das principais autoridades estaduais e federais, do Centro Operário Sergipano e grande massa popular foi inaugurada da Escola. Estiveram presentes as seguintes autoridades: o diretor Augusto Leite, professor de desenho; de Francisco Soares de Brito Travassos; professora primária Cândida Santos de Menezes; mestres das oficinas da marcenaria J. A. Carvalho; de Alfaiataria Avelino Lós Reis; ferraria e mecânica Abdias B. da Silva; de Sapataria Antonio D. Moreira; de selaria, Venância Barreto; o porteiro contínuo Francisco Vieira Telles de Menezes; o exm. Presidente do Estado, doutor José Rodrigues da Costa Dória, a convite do diretor presidiu a sessão, tendo por secretários o Delegado Fiscal, major Afonso Gomes e o juiz Substituto Seccional doutor Francisco Vieira de Mello.

Vejamos o discurso do operário Manuel Júlio da Silva no ato da inauguração do Centro:

“Meus Senhores: – Não espere de mim o desenvolvimento lógico do momentoso assunto, pelo qual hoje aqui nos reunimos, porque, na vida contemporânea da humanidade, há trago dias, que atravessam a história de um povo, ou a grandeza dos feitos de uma classe, cujo alcance não me é dado determinar.

O que é certo, é que os esforços desta laboriosa classe de operários, se internando, até hoje, nas grandes fábricas industriais, e nas oficinas mecânicas, dão somente a conhecer que o seu civismo está no cumprimento do dever, sem, com tudo, ser privado de buscar um pecúlio de ilustração.

Vivemos honradamente do trabalho manual, para espancar a indigência do nosso lar, e também do espírito, a fim de não nos entregarmos ao abandono intelectual; porque, socialmente não se pode estar privado do comprimento desta necessidade.

Entretanto, o trabalho é o mais seguro e caminho para as grandezas do espírito; o trabalho é a alavanca do homem civilizado, como a negligência é a norma dos seres que se acha fora ele.

E notai senhores, que o vocábulo – trabalho, aqui, significa o dever e a consciência do próprio valor, mas, ali, significa o esforço inteligente do homem que luta.

Se, desde as remotas épocas da história, a organização do trabalho tivesse sido um fato, o progresso da civilização não se realizará a custa de ondas de sangue os corajosos e arrojados operários, que sucumbiram, e ainda hoje sucumbem no desequilíbrio dos esforços, quando, no colocar ou desmontar desta ou daquela peça mecânica, muitas vezes, precisam de engenho ou arte, adquirida com os labores do espírito e da vontade pertinaz.

E desta forma, senhores, desaparecem deixando mulher e filhos, livres de uma apreciação menos exata, por parte daqueles que não sabem prezar devidamente, os verdadeiros sentimentos da dignidade humana.

Um povo de ocupados é uma fortaleza da paz; e o farol da tranquilidade a que todos aspiramos, no seio de nossa família.

Ainda mais, importa, apanhando o fio da corrente da civilização moderna, declarar-vos que o operário não decai de sua augusta missão, quando, depondo o instrumento da arte ou do ofício, concorre com a sua parcela de boa vontade, para a solução dos grandes problemas sociais, em que se agitam s interesses e a honra da pátria.

O operário é uma entidade civil, como os demais cidadãos, porém nunca deve favorecer facções políticas, em detrimento do nosso Centro Operário –, e sim contribuir para a unificação da classe, sem jamais se imiscuir nos meandros de uma politicagem exaltada.

Meus colegas: como vós eu sou operário, como vós haveis curtido os azedumes da existência; mas, crede-me – a taça por onde se bebe as contrariedades do trabalho, não tem amarguras, e sim, a amenidade de delicias no próprio lar, onde a honestidade e a consolação da existência presume-se, que e encontram sempre presente.

Sejamos fortes, sejamos unidos, sejamos contentes e obstinados n trabalho, e assim alcançaremos afinal o nosso desideratum, a mais bela, a mais atraente e nobilitante das coroas:

– A mutualidade operária.

Viva o 1º de maio!…”[2]

A Escola Horácio Hora foi uma das 26 escolas operárias existentes no Brasil durante a República Velha. Para a criação da escola foi realizada pelo Centro Operário Sergipano, numa tentativa de reduzir o alto número de analfabetos no meio da classe operária sergipana, uma intensa campanha através do jornal O Operário, órgão publicado pela organização, pedindo ajuda de todas as classes sociais do Estado:

“O Centro Operário solicita aos representantes de todas as classes sociais, a sua coadjuvação na grande ideia da fundação de uma escola noturna para o operariado desta terra”.[3]

Finalmente inaugurada em 8 de outubro de 1911, escola mista e noturna, subvencionada pelo Estado e o Município teve uma assistência numerosa e prestou relevantes serviços à classe proletária. O Centro Operário Sergipano também contou com a divulgação de várias empresas jornalísticas locais. Vejamos o registro do Correio de Aracaju:

“Hoje, às 7 horas da noite, num dos salões da Sergipe Industrial, realiza-se a inauguração solene da escola noturna que o Centro Operário Sergipano vai ali fundar. Serão professores os distintos moços Dr. Olympio Mendonça e Misael Vianna”.[4]

(Clique na foto para ampliar)

Na primeira fase, entre 1911 a 1915, escola operária funcionou no salão da Fábrica Sergipe Industrial, contando com a ajuda do empresário e engenheiro têxtil proprietário da fábrica, Thales Ferraz (1870-1927), que tentou repassar os seus conhecimentos técnicos e científicos aos mestres e contramestres da fábrica e introduziu novas regras nas relações capital/trabalho. A partir de 1916, a escola passa a funcionar nas instalações da casa do professor Sebastião Públio de Albuquerque, contando para isso, com a ajuda do governador Manuel Presciliano de Oliveira Valadão (1914-1918), que além de ampliar as instalações proporcionando toda a infraestrutura de uma escola. A construção da sede própria do Centro Operário Sergipano ocorre em 1920, ano em que a Escola Horácio Hora, passa a funcional na sede da agremiação operária.

A partir da edição de 25 de julho de 1915 d’O Estado de Sergipe, inicia a publicação da grande subscrição popular (apresenta relação de contribuintes com os respectivos valores) aberta pela diretoria de Centro Operário Sergipano para a construção de um prédio que serviria de sede à mesma sociedade e a Escola Horácio Hora, mantida pelo Centro, para instrução à noite das crianças pobres.

Durante toda a sua existência, o Centro manteve vários jornais na agremiação, entre eles a Voz do Operário, que se publicava mensalmente, cuja primeira edição saiu em março de 1920: “A Voz do Operário – destinado a favorecer e registrar o movimento das classes trabalhadoras do Estado. Terá quatro páginas e a sua publicação será provavelmente mensal. A distribuição vai ser gratuita, uma vez que se trata de propagar uma ideia, em cuja afetivação em o Centro Operário sergipano o maior empenho. Saudaremos com aplausos a aparição do novo lutador”.[5]

Vejamos o registro do Correio de Aracaju:

“Já nos sentimos menos sós com a aparição de mais um periódico – Voz do Operário – que circulou domingo pela primeira vez nesta capital.

No seu título esta traçado o seu lema e o fim que se propõe. Não desfralda a “bandeira vermelha” do anarquismo e das reinvidicações excessivas, mas o seu programa está suficientemente esclarecido pelas suas aspirações de liberdade e fraternidade universal, e pelo esforço para colocar o homem num plano de igualdade, onde “a cada um será dado o preciso com conforto, e ninguém terá demasiado com luxo”

Saudamos o novo colega, e confiamos na sua ação para melhorar a sorte do operário, de que ele vai a ser o paladino e o defensor”.[6]

A solenidade da importante sessão do dia 1º de maio de 1928 no Centro Operário Sergipano foi uma festa que tocou muito de perto a todos os corações operários, que se reuniram na sua maioria para a celebração de uma data inteiramente dedicada aos trabalhadores. Iniciada a sessão de abertura pelo Presidente da instituição, Antônio Alves, convidou o deputado Humberto Dantas para presidir os trabalhos, o qual por sua vez, convidou os titulares, Leandro Marcial e o deputado Mecenas Peixoto para secretários:

“Encaminhados os trabalhos, foi dada a palavra ao jornalista Deolindo Nascimento que em brilhantes palavras fez o discurso oficial. Em seguida discursaram os jovens e inteligentes patrícios Thales Viera da Silva, Zacarias Coelho, pela Sociedade U. D. dos Operários, Sr. Antônio lês e Sergio Nogueira.

Todos os discursos foram feitos com muita felicidade, tendo sido os oradores calorosamente ovacionados”.[7]

Em setembro de 1929 o Centro convidou o jornalista Francisco de Mattos, redator do jornal baiano Diário de Notícias, com a incumbência de abrir uma série de conferências sobre O proletariado e a Questão Nacional. Sua apresentação foi feita pelo orador oficial do Centro, deputado Xavier de Oliveira:

“Referindo-se ao proletariado, salientou-lhe o poderoso concurso que ele presta ao progresso do mundo, em todos os ramos da atividade humana.

Abordando a questão do voto o conferencista apelou ao sentido de que os brasileiros de Sergipe não se furtassem ao dever patriótico de concorrer, nas urnas, para escolha dos que, julgados mais dignos, merecessem a magistratura suprem do país.

Criticando o “falso liberalismo” dos que apoiam a fórmula Getúlio Vargas – João Pessoa, o Sr. Francisco de Mattos avançou conceitos judiciosos em torno do magno problema da sucessão presidencial da República, terminando por demonstrar ao auditório que os verdadeiros candidatos nacionais são os Sr. Júlio Prestes e Vital Soares, dois brasileiros notáveis, capazes de levar o Brasil a magníficos destinos, na continuação do programa político – administrativo do benemérito Presidente Washington Luis”.[8]

Ao terminar a sua eloquente oração, o jornalista Francisco de Mattos dirigiu uma encantadora saudação a Sergipe, salientando, por essa ocasião, os relevantes e inestimáveis serviços que o Presidente Manoel Dantas vinha prestando à frente do governo do Estado.

Nesta mesma data, o Correio de Aracaju publicou telegrama do governador do Estado da Bahia, eleito em 1927, Vital Henrique Batista Soares (1878-19??) que havia recebido no palácio, o deputado avier e Oliveira, orador do Centro Operário Sergipano, com a seguinte informação:

“Bahia, 10 (off.) Estou muito agradecido ao Centro Operário Sergipano pela maneira eficiente porque está propagando a chapa nacional servindo assim aos altos interesses do País. Atenciosas saudações – Vital Soares”.[9]

Como nos anos anteriores, o Centro Operário Sergipano, comemora o Dia do trabalhador e para o 1º de Maio de 1930, convidou o coronel José Silvério, representante do Presidente do Estado para presidir a sessão. Em seguida o deputado Xavier Oliveira, orador oficial do Centro Operário, e de improviso apresentou ao público o jornalista e professor Acrísio Cruz, que leu com vivo entusiasmo sua oração. Vejamos um trecho:

“Exmo. Sr. Representante do honrado Presidente do Estado

Srs. Diretores do Centro Operário Sergipano

Minhas senhoras:

Meus senhores;

A reunião de agora levada a efeito pelos que compõem o Centro Operário Sergipano tem uma significação expressiva entre todos quantos se empenham pelo bem estar coletivo. Antes e tudo tenho a dizer que me sinto imensamente satisfeito em falar hoje para o operariado ordeiro e realizador de Sergipe, a cuja frente está à firmeza de espírito e altivez de sentimentos do Dr. Otávio do Espírito Santo. Esta agremiação social dia a dia se impõe ao conceito do público, pelo muito que tem feito em favor do nosso progresso. Está mais que provado ser uma necessidade premente a todos os países a unificação de esforços em torno de qualquer objetivo, máxime quando se tem em vista a segurança do futuro, ou por outra, da nossa finalidade histórica. Não tivésseis uma organização especial, não formásseis um todo, talvez não alcançasse o resultado imposto pelas circunstâncias imediatas da existência.

Isoladas ou fracionados as energias, isto é, agindo cada um por si só, é evidente, evidentíssimo, nunca chegaria ao objetivo almejado. Por isso é que a alta visão dos nossos estadistas e indústrias dirigiu a sua atividade em favor do operariado, cuja vida anterior em vários países, foi sempre cheia de incertezas, além das muitas que, pela lei da eventualidade humana, aguardamos, na face da terra. E os benefícios que podia atingir a vossa classe concretizar-se-iam só depois de criada organizações especiais, regidas por estatutos elaborados pela clarividência dos homens da ordem e do progresso, para os quais a terra berço é objeto de constantes apreensões” (…) E conclui finalizando seu discurso, afirmando que “o trabalho traz a solidariedade entre as classes, eliminando o pessimismo e a intolerância, elementos incompatíveis com a grandeza comum; o trabalho faz esquecer os maus intentos; eleva cada vez mais a terra da Pátria, descansa o espírito, mantém a própria existência.

E a melhor saudação senhores que me ocorre á memória enviar, hoje, a todos vós é deixar manifestado nesta tribuna a minha indizível satisfação e o meu desejo de ver o Operário Sergipano continuar progredindo bastante, de ver as vossas necessidades extinguidas, fazendo ainda ardentes votos para que continueis sob a proteção carinhosa do Dr. Octávio do Espírito Santo e a simpatia confortadora do nosso eminente chefe Presidente Manoel Dantas.

A todos vós, incansáveis operários de minha terra, os meus saudares pela vossa data, que é também de todos os brasileiros patriotas”.[10]

No dia 1º de maio de 1932, realizou-se na sede do COS, a solenidade memorativa da data em que se evoca o martírio dos apostolo proletários de Chicago. A reunião foi presidida pelo major Interventor Federal Nicanor Nunes, ladeado pelo Presidente do Centro, Firmo Pacífico de Andrade e do advogado Cstafilho, Consultor jurídico dos Sindicatos Operários do Estado, a mesa a diretoria do COS o Interventor Municipal de Aracaju, Camilo Calasans. A aberta a sessão, foi dada a palavra ao orador da associação mater dos proletários, Sr. Jefferson Silva, que leu um criterioso e longo discurso sobre o momento proletário atual em todo o mundo. Após, foi concedida a palavra ao orador anteriormente inscrito, o professor e político Clodomir Silva (1892-1932), que fez um apelo ao operariado no sentido de instruir-se cada vez mais e pugnar pelos seus direitos, que a burguesia teima em denegar.

Falou depois, o conhecido e hábil operário Sérgio Nogueira, que produziu uma curta, calorosa e ponderada oração. Ainda usaram da palavra outros operários inclusive o Presidente Firmo Pacífico, que abordou considerações oportunas em torno da situação do proletariado e da burguesia, na Europa e na América, no momento agitado que vamos vivendo. Um grupo de crianças proletárias entoou estrofes do hino operário, que á a Internacional.[11]

As comemorações de aniversário da fundação do Centro Operário Sergipano, que em 1933 completou vinte dois anos, foram realizadas em noite solene, juntamente com a instalação da Federação Sergipana do Trabalho, para cujo ato foi dirigido convite ao Presidente do Conselho Nacional do Trabalho – CNT, Deodato Maia, que acompanhado do representante Interventor Federal, Maynard Gomes, penetrou no salão sob estupendas aclamações:

“Uma estonteante tempestade de palmas e vivas. Uma assistência operária colossal. Nunca se viu daquilo. Não havia lugar no Centro, nas portas, nas janelas, nos móveis, até no telhado, que deixasse de estar ocupado. Na Rua de Santo Amaro, na Rua do Geru, nas vizinhanças, a aglomeração era compacta e burburinhante. Uma floresta proletária. Certa hora, o soalho do prédio arriou ao peso monstro da massa. Não houve pânico. O pessoal permaneceu firme sobre o soalho desabado”.[12] O Presidente Deodato Maia, sergipano de Maruim, após o término da sua comunicação declarou instalada legalmente a Federação Sergipana do Trabalho. Bastante aplaudido pelos presentes, pela forma, pelas ideias socialistas, pelo fundo conciso e pela sinceridade de convicção, em seguida o Presidente da Federação, operário sindicalizado Firmo Pacífico de Andrade, ex-presidente do Centro Operário Sergipano, proferiu um ponderado discurso, agradecendo ao Deodato Maia a sua presença e concitando o operariado prosseguir na tarefa das suas justas reivindicações.

Alceu Dantas fez um longo discurso doutrinário, uma ode em prosa ao operariado, ao 1º de Maio, ao socialismo, traçando com franqueza os rumos a seguir pelo proletariado. Outro operário que teve acesso a fala foi Manoel Góis, do Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, que fez um discurso bastante inteligente. Thales Feraz congratulou-se com o operariado pela data comemorada e felicitou os Diretores do Centro Operário Sergipano. Foram muitos os operários que se ocuparam da palavra. O estivador José Leandro fez vibrar todo o auditório do Centro com um rápido e inflamado discurso, deixando o ambiente debaixo de uma grandiosa ovação.

A Constituição de 1934 permitiu que o voto fosse secreto e também as mulheres alfabetizadas pudessem votar e a idade mínima para ser eleitor passou a ser de 18 anos. Nessa Constituição os trabalhadores conseguiram que fosse aprovada a lei das oito horas de trabalho por dia, do descanso semanal pago, do direito à assistência médica, à educação e às férias anuais. Dissolvido o Legislativo com o golpe de 1937, liderado por Getúlio Vargas que implantou no Brasil uma ditadura, um governo autoritário que se estenderia até 1945, ficam mudos os órgãos sindicais, e o Estado tudo controla, limitando a ação sindical e passa a legislar desesperadamente sobre Direito do Trabalho.

O Centro Operário Sergipano teve um período de corajosas lutas reivindicativas naquele tempo em que, introduzido o movimento revolucionário sindicalista no Brasil, as classes sofredoras passavam por um período de efervescência reclamando direitos que não possuíam, rebelando-se com o estado de coisas. A partir de 1938 começou a decadência do Centro, como casa dos operários, “terminou caindo nas mãos do Sr. Afonso Jorge que acobertado pelos poderes constituídos transformou a vibrante sociedade em um túmulo”.[13] Após um pequeno intervalo, o Centro continuou vivendo de suas tradições, mas era necessário reconquista-lo para os trabalhadores velhos e moços.

Em abril de 1945 uma comissão composta por mais de vinte antigos sócios do Centro Operário Sergipano, protestam contra todas as irregularidades que vinham sendo praticadas pelos atuais dirigentes. A comissão apresentou um protesto e enumerou seis itens, os quais foram divulgados pela imprensa. Vejamos os dois primeiros itens:

Sendo o Centro, uma sociedade fundada em 1911, e a que primeiro arregimentou as classes

trabalhadoras desta capital, para, unidas lutarem pela conquista de melhorias econômicas e socais e por último combater o fascismo, não poderá absolutamente continuar neste indiferentismo criminoso sem defender as mais legítimas aspirações da massa popular no atual momento que atravessamos.

Aconteceu que de 1935 até esta data, o Centro Operário, não mais realizou uma só eleição de acordo com os seus Estatutos, bem com não se realizaram as costumeiras reuniões, permanecendo desta forma divorciado de sua verdadeira finalidade.[14]

Esse protesto mereceu imediata resposta de Pedro Matos, Presidente do COS que publicou no mesmo diário sua defesa, sob o título de Contra Protesto:

“Em três itens expõem os signatários as razões do protesto, itens que infelizmente não podemos tomar na devida consideração, pela inocuidade dos mesmos. Não é verdade que o Centro Operário Sergipano se conserve indiferente ao panorama atual do Mundo, quando para sobreviver, a despeito da deserção dos ex-companheiros que assinam o protesto, mantém os seus serviços beneficiários. Aplica honestamente o numerário que recebe dos cofres públicos conservando em funcionamento as suas duas Escolas – Horácio Hora e Antonio Alves auxiliando companheiros em termos, pagando funerais, etc. Quanto ao segundo item, também não é verdade que o Centro jamais deixou de festejar suas datas maiores. E quanto ao quarto, a Direção, jamais teve um só ato de hostilidade para com sócio seu, aproveitando-se de “longa asfixia policial”. Todos os signatários do protesto foram sócios do Centro Operário que se eliminaram automaticamente por força do Art. 8 dos Estatutos que comina a pena e renúncia de direito a todo sócio cuja devida para com a Tesouraria se eleva a cinco meses.

Todos os signatários do protesto, pois ex-sócios do Centro Operário Sergipano, nada exprimem para nos fazer tomar consideração qualquer forma de protesto por eles assinado. O Centro continuará vivo e ativo e isso é o que interessa e é útil a Sergipe e ao Brasil.

Aracaju, 30 de abril de 1945.

Pedro Mattos

Presidente”[15]

Na edição de 2 de maio do Diário e Sergipe, foi publicado o Relatório da presidência do COS, lido na sessão da Assembleia Geral realizada a 29 de abril de 1945.  Em 1957, os operários convocaram uma Assembleia Geral Extraordinária, entraram em entendimentos com as autoridades e realizaram Assembleia no dia 2 de outubro. Assim descreveu o repórter da Folha Popular:

“Com o Centro lotado de trabalhadores, o seu presidente vitalício renunciou. Não havia nenhum sócio na sociedade, na prática irregularidade. Mas os trabalhadores não queriam divergências: ouviram o Sr. Afonso, passaram uma esponja no passado e elegeram uma Junta Governista. Foi votada a anistia geral. As eleições serão convocadas dentro de 60 dias. Será iniciada uma campanha de sócios. A Junta Governista ficou composta dos Srs. Thomaz de Aquino, José Nunes da Silva e Benedito Justino dos Santos, que são alguns dos líderes do movimento de reorganização do Centro”.[16]

A nova diretoria do Centro Operário Sergipano foi empossada em 1º (domingo), às 20 horas do mês de dezembro, constituída pelos seguintes membros:

José Nunes da Silva (presidente); Thomaz Aquino Freitas (vice-presidente); José Benedito dos Santos (1º secretário); José Pacheco de Santana (2º secretário); Benedito Justino dos Santos (tesoureiro); Jaime Andrade (2º tesoureiro); Prof. Manoel Franco Freire (orador) e ainda um conselho constituído de nove membros.  Compareceram a esse ato festivo inúmeras autoridades: Leandro Maciel (governador do Estado); Filadelfo Dória (deputado); Emilio Gentil, Dr. João arques Guimarães; Sr. José Conrado de Araújo e outras destacadas autoridades; representantes de sindicatos e associações, além de grande número de trabalhadores. Após o ato da posse dos novos diretores dessa entidade, usaram da palavra os companheiros: José Nunes da Silva, José Almeida, Lídio Santos, José Vitor, Austrogésilo Porto, Wilson Moura, Otoniel Santos, Felix Felizola, Clodoaldo Pacheco e o professor Franco Freire, orador oficial do Centro.

O Centro procurou sempre congregar o proletariado, realizando uma obra meritória no revindicar os direitos da classe, deu ao trabalhador sergipano oportunidade de concretizar as suas legítimas aspirações. A agremiação operária esteve em toda a sua trajetória, envolvida em vários movimentos democráticos, entre os quais A Frente Nacionalista do Estado de Sergipe, Movimento de Ajuda ao Jornal do Povo e outros, inclusive cedendo suas instalações para reuniões, debates e organizações de comissões.

Para as comemorações do 1º de maio de 1958 e o quadragésimo sétimo ano de criação do Centro Operário Sergipano, além de convidar os trabalhadores e o povo em geral a assistirem às solenidades, dando maior brilhantismo as solenidades, foi feita a aposição dos retratos do mártir operário Anísio Dário e do Exmº governador do Estado, Leandro Maciel:

“O Centro Operário Sergipano, saúda os trabalhadores sergipanos. É com muito orgulho que neste 1º de Maio, nosso Centro participa das lutas unitárias dos trabalhadores que se organizam para conquistarem melhores condições de vida e de trabalho.

O Centro Operário Sergipano, como participante entusiasta das comemorações do dia 1º de Maio, conclama a todos os companheiros que não faltem às solenidades que serão realizadas, dando assim, uma demonstração de unidade e fraternidade.

Reverenciamos os heróis que tombaram nas lutas pela conquista de melhores condições de vida e pela independência de nossa pátria, devendo construir para nós inspiração e exemplo, nesta hora em que os trabalhadores devem se unir ainda mais com toda firmeza, empunhando ainda com mais vigor, a bandeira do Movimento Nacionalista”.[17]

José Nunes e o militante comunista Agliberto Azevedo (Clique na foto para ampliar)

Não resta dúvida nenhuma sobre a influência do Executivo no processo de cassação do registro do Partido Comunista Brasileiro. A distribuição da força federal, as medidas de ordem estritamente militar, tomadas nas vésperas do julgamento, as Ruas em pé de guerra, as cidades apavoradas com o espalhafatoso reboliço de tropas e de armamentos bélicos, tudo isso indicava a olho nu, o interesse, imediato do Exército no fechamento do Partido Comunista. O combativo jornalista do Sergipe-Jornal, Paulo Costa em artigo publicado nesta folha, critica o despreparo da Polícia Sergipana:

“A Polícia de Sergipe, juridicamente desorientada praticou infelizmente esse despautério, fechando, em Aracaju e no interior, as sedes do Pardito Comunista, sem que se conhecesse antes o Acordão do Superior Tribunal Eleitoral.

É bem de ver que as autoridades policiais sergipanas agirem ao arrepto da lei, pois que os arrestos judiciais só podem produzir efeitos depois de transitar em julgado, e, quando muito, depois de publicado.

Lamentável que em plena democracia brasileira estejamos a reviver os métodos iníquos do regime ditatorial”.[18]

Ao prestar contas do movimento financeiro do exercício de 1958, apresentado à Assembleia Geral Ordinária, realizada em 5 de março de 1959, o presidente do Centro Operário Sergipano, José Nunes da Silva fez o seguinte pronunciamento:

“Companheiros associados: Decorrido um ano de atividade, viemos cumprir o dever de vos apresentar o Relatório e o Balanço referente ao movimento financeiro, relatando deste modo as principais ocorrências no exercício social de 1958, cumprindo assim, às determinações dos nossos Estatutos.

Logo ao assumirmos a presidência a nossa principal preocupação foi iniciarmos os diversos reparos de que estava necessitando a sede do Centro. O ex-presidente Afonso Jorge Campos levou o Centro Operário, a uma grave situação de ruína. O prédio da nossa sede se encontrava completamente abandonado.

Grande foi o nosso esforço para adquirirmos os recursos necessários a fim de realizarmos os diversos reparos na nossa sede.

O Centro Operário Sergipano é a mais antiga agremiação operária do Estado, fundada em 1º de maio de 1911, foi a que primeiro arregimentou toda a classe trabalhadora de Sergipe, no sentido de lutar pela conquista de melhores condições de vida, sendo, portanto, um patrimônio que devemos conservar, um marco consagrador da capacidade do operariado sergipano”.[19]

Os cinquenta anos de fundação do Centro Operário Sergipano foram comemorados com muito entusiasmo. O popular Lídio Santos orador oficial do Centro, que em rápido improviso, falou das lutas dos trabalhadores naquela organização e concitou a que todo povo se reunisse na luta pela independência nacional e em defesa de Cuba e contra a Portaria 204. O Vereador Agonalto Pacheco em nome do funcionalismo congratulou-se com as comemorações do Dia do Trabalho e do aniversário do Centro Operário. A certa altura do seu discurso disse: a instrução 24 deveria ser substituída pela reforma agrária, pelo cancelamento dos privilégios que gozam os trustes e monopólios americanos, pela proteção aos capitais nacionais e pela industrialização do Nordeste. Devemos todos pensar assim, seja quais forem as nossas crenças religiosas ou partido em que atuamos.[20]

As festividades do 1º de Maio de 1961foram registradas pelo jornalista Wilson Moura, na Gazeta de Sergipe:

“Os trabalhadores sergipanos marcaram um grande tento este ano com os festejos do 1º de Maio. O Centro Operário Sergipano foi o ponto de concentração da massa trabalhadora onde foi atendido quase todo o programa. Nesta data não somente festejaram o Dia do Trabalho como também o quinquagésimo aniversário do Centro Operário.

Os temas mais aplaudidos pelo povo foram os que se relacionaram com custo de vida, com a condenação da Instrução 204 e sobre Cuba.

Foi não resta dúvida uma grande festa cívica quando os trabalhadores deram uma demonstração de amadurecimento para os seus grandes problemas e de democracia. Os oradores se sucediam na Tribuna cada qual manifestando as suas ideias. O povo presente no Centro Operário e na concentração na Praça Fausto Cardoso teve oportunidade de aplaudir os diversos pronunciamentos desde os mais exaltados pelas ideias socialistas até os mais radicais anticomunistas.

O ponto mais alto da festa foi o fato de os líderes, desta vez, terem feito os festejos sem a intervenção de forças estranhas. A participação das autoridades foi apenas a demonstração do respeito da classe operária aos seus governantes. A igreja prestigiou as festas com a presença de D. José Vicente Távora na concentração operária.

Devemos lembrar que, no ano passado, as festividades do 1º de Maio foram deturpadas de tal forma que a classe operária ficou ofuscada, pois toda atenção do povo foi voltada para o governo que patrocinou o desfile de carros alegóricos. Este ano, um dia de festas, comandadas pelos trabalhadores, iniciando-se pela missa celebrada por D. Vicente Távora, seguindo-se de provas esportivas; coquetel, batimento da primeira pedra da Casa do Trabalhador pelo Governador do Estado; palestra do Dr. Aluisio Campos sobe desenvolvimento econômico; concentração na Praça Fausto Cardoso, sessão solene de posse da nova diretoria do Centro Operário e por fim um animado baile.

Lamentavelmente, o que ainda está se construindo em ponto negativa nas festividades dos 1º de Maio é o desvio de trabalhadores para as partidas de futebol. Isto foi abordado por oradores como também a ausência das classes produtoras. Tal fato levou os que estavam presentes a aplaudir o único industrial que atendeu ao convite dos trabalhadores, o Sr. Josias Dantas, diretor da fábrica de tecidos de Maruim”.[21]

* É jornalista e escritor (gilfrancisco.santos@gmail.com)

[1] O Estado de Sergipe. Aracaju, 30 de abril, 1911.

[2] O Estado de Sergipe. Aracaju, 3 de maio, 1911.

[3] O Operário. Aracaju, 23 de setembro, 1911.

[4] Correio de Aracaju. Aracaju, 8 de outubro, 1911.

[5] Correio de Aracaju. Aracaju. Ano XIII, nº2.817, 28 de fevereiro,1920.

[6] Correio de Aracaju. Ano XIII, nº2.818, 2 de março, 1920.

[7] Correio de Aracaju. Aracaju, 2 de maio, 1928.

[8] Correio de Aracaju. Aracaju, 10 de setembro, 1929.

[9] Correio de Aracaju. Aracaju, 10 de setembro, 1929.

[10] Correio de Aracaju. Aracaju, 2 de maio, 1930.

[11] Jornal de Notícias. Aracaju, 2 de maio, 1932.

[12] Diário da Tarde. Aracaju, 2 de maio, 1933.

[13] Folha Popular. Aracaju, Ano IV, nº146, 5 de outubro, 1957.

[14] Diário de Sergipe. Aracaju, (Diário Operário), Centro Operário Sergipano – Protesto, 28 de abril, 1945.

[15] Diário de Sergipe. Aracaju (Diário Operário), Centro Operário Sergipano – Contra Protesto, 30 de abril, 1945.

[16] Folha Popular. Aracaju, Ano IV, nº146, 5 de outubro, 1957.

[17] Folha Popular. Aracaju, Ano V, nº175, 1º de maio, 1958.

[18] Sergipe-Jornal. Aracaju, 10 de maio, 1947.

[19] Correio de Aracaju. Aracaju, 11 de abril, 1959

[20]  Folha Popular. Aracaju, Ano VIII, nº 319, de 6 de maio, 1961.

[21] Gazeta de Sergipe. Aracaju, 5 de maio, 1961.

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