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A pensão da viúva

Por Antonio Samarone *

Tobias Barreto, o maior dos sergipanos pelo talento e pela erudição, faleceu pobre, em 1889. Deixou a viúva, Grata Malfada Barreto, com 9 filhos, em dificuldade financeira.

Em 1892, um projeto de lei concedendo pensão anual de 3.600 reis a viúva de Tobias Barreto, tramitou no Senado. Para espanto e surpresa, o Senador por Sergipe, Coronel Manuel da Silva Rosa Júnior, mais conhecido como Rosa Júnior (1840 —1915), liderou a oposição ao projeto, alegando que o Brasil não poderia ser onerado.

A indignação tomou conta dos sergipanos. Tobias Barreto é uma das glórias raras de Sergipe. Mesmo quem nada sabe sobre o poeta e jurista, se orgulha da sua grandeza.

Sílvio Romero apresentou um requerimento ao Marechal Deodoro, em defesa da pensão da viúva, acompanhado de um abaixo assinado por todos os professores da Faculdade de Direito de Recife.

Trechos do requerimento de Sílvio Romero:

“Venho dirigir-me a Vossa Excelência no intuito de requerer-vos uma pensão que deva prover a subsistência de Dona Grata Malfada Barreto, viúva do finado Tobias Barreto, hoje reduzida ao completo desamparo, em companhia de nove filhos menores… A viúva do venerando professor e homem de letras ficou na mais angustiosa pobreza.”

A comunidade sergipana residente no Rio de Janeiro, liderada por Martinho Garcez, realizou uma grande mobilização em defesa da pensão da viúva.Em manifesto público, a comunidade sergipana no Rio de Janeiro reagiu:

“O senador sergipano Rosa Junior teve a coragem de combater a mesquinha esmola de pensão anual de 3.600 reis, que o Senado queria conferir a viúva e filhos do eminente sábio sergipano. O que ficou sendo o Senador Rosa Junior depois desse combate? Menos que um defunto, uma irrisão. Os sinos dobram para ele.”

A Assembleia Legislativa de Sergipe, historicamente sem grandeza, aprovou por unanimidade um requerimento ao Senado, apoiando a pensão da viúva.

Transcrevo trechos de uma artigo de Martinho Garcez, nos Jornais do Rio de Janeiro.

“Rosa Junior ganha os seus bons cobrinhos de Senador e do posto de Coronel, passeia, fuma os seus charutos de havana de 600 reis cada um, goza teatros e das boas petisqueiras, sem se incomodar com o dia do amanhã. Rosa Junior entende que a viúva e os filhos de um grande brasileiro não precisam alimentar-se, nem de vestir-se, nem de habitar um teto decente.”

Rosa Junior passou para a história de Sergipe, como um indigno representante no Senado, que agiu como o carrasco da viúva de Tobias Barreto.

* É médico sanitarista.

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