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Um presidente mitômano II

Artigo com esse título, “Um presidente mitômano”, foi publicado por aqui em outubro passado, mas, para sancionar a verdade, é necessário retornar ao tema, afinal, o cara não só continua mentindo descaradamente, como seus ministros aprenderam o cacoete e nem ficam vermelhos quando saem por aí arrotando inverdades.

Vejamos as últimas do mito do mito, Sérgio Moro. O senhor ministro da Justiça negou que tivesse assinado o procedimento para censurar a Facada Fest, um festival de punk rock no Pará que exibiu imagens grotescas de Bolsonaro. A Folha de S.Paulo publicou o documento assinado por ele e o desmentiu.

Pouco antes, Sérgio Moro negou que tenha invocado a Lei de Segurança Nacional para obrigar Lula a depor na Polícia Federal por ter chamado Bolsonaro de miliciano. A LSN é um entulho autoritário que já deveria estar sepultado e não servir de abrigo para um ministro da Justiça.

Mais uma demonstração de que ele continua topando qualquer negócio para defender o patrão.

Anteriormente, Moro já havia utilizado do mesmo expediente para colocar a PF no encalço do porteiro que permitiu o acesso ao condomínio para um dos assassinos de Marielle por autorização dada pela casa 58, a do senhor Jair.

Agora, uma do próprio Bolsonaro que é de lascar: para justificar o compartilhamento de um vídeo convocando a súcia bolsonarista para ir às ruas contra o Congresso Nacional e o STF, mantendo seu ataque às instituições e a misoginia contra a jornalista Vera Magalhães, o presidente afirmou numa live que aquele vídeo era de março de 2015.

Mas o próprio vídeo o desmente, porque o enaltece como o herói que foi esfaqueado em 2018 para salvar a pátria. Ora, senhor, como um vídeo já previa com três anos de antecedência que o então candidato seria esfaqueado? E será que foi mesmo? Não sabe nem mentir, ô desgraçado!

Depois ele ainda acusou a jornalista de ter afirmado que ele próprio teria gravado o vídeo convocando para os atos contra os outros poderes. Isso nunca aconteceu, a própria Vera Magalhães tratou de mostrar.

695 declarações falsas

Bolsonaro segue impávido confirmando ser um mitômano, que mente patologicamente. Mentiu toda a vida, mentiu muito durante a campanha eleitoral e seu discurso presidencial é fake. O portal aosfatos.org informou no último dia 20 que, em 415 dias como presidente, Bolsonaro deu 695 declarações falsas ou distorcidas.

Ele agora nega que tenha havido tortura durante a ditadura, que é “tudo cascata para ganhar indenização”.

Mas uma das suas afirmações falsas mais repetidas é que montou uma equipe de forma técnica, sem viés ideológico. Todo mundo sabe que seu governo é guiado pelas bancadas ruralista e evangélica, que têm claros interesses políticos e ideológicos, inclusive interferindo diretamente na montagem do ministério, vide os ocupantes da Agricultura, do Meio Ambiente, das Relações Exteriores, da Educação, da Família…

Bolsonaro endossou uma mentira quando comentou reportagem de capa da revista Veja e disse não estar surpreso com a suposta declaração do publicitário Marcos Valério de que Lula foi mandante do assassinato de Celso Daniel. “Surpreso? Não!”, ironizou.

A farsa não durou 24 horas. “O Marcos Valério nunca afirmou que Lula é o mandante do assassinato de Celso Daniel”, desmentiu o delegado Rodrigo Pinho de Bossi, a autoridade que tomou o depoimento que Veja utiliza para construir a versão de que o ex-presidente estaria envolvido na morte do petista ex-prefeito de Santo André.

Ele concordou com a declaração criminosa e irresponsável do seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que culpou o Greenpeace pelo vazamento de óleo que afetou o litoral do Nordeste. “Para mim isso é um ato terrorista. Para mim, esse Greenpeace só nos atrapalha”, afirmou Bolsonaro.

Bolsonaro mente reiteradamente sobre seu “soldado” Fabrício Queiroz, ressaltando que não conversa mais com o amigo desde que iniciaram as denúncias de que ele comandava o esquema de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro, na Alerj. Recentemente, embora escondido, Queiroz foi flagrado oferecendo cargos na Câmara e no Senado.

No discurso da ONU, em setembro, Bolsonaro falou que o Brasil esteve sob ameaça de implantação do socialismo. No mesmo discurso, insinuou que as escolas estavam sendo usadas para perversão das crianças.

Sugeriu que o programa Mais Médicos era uma estratégia para a mudança de regime no país e que os médicos cubanos não possuíam formação profissional. E sustentou que a floresta amazônica não está sob ameaça de devastação, apesar da ampliação das queimadas.

A Mentira e a Verdade

As mentiras de Bolsonaro expõem o Brasil a sérios riscos, desmoralizam o país, afastam investidores e só atraem oportunistas. Uma mentira contada muitas vezes torna-se uma verdade, é o que se diz. E o que se vê é muita gente acreditando e repetindo suas mentiras como se fossem verdades.

O que vale repetir é esta parábola, de autoria desconhecida. Conta que um dia a Mentira e a Verdade se encontraram. A Mentira disse à Verdade:

– Bom dia, dona Verdade.

E a Verdade foi comprovar se realmente era um bom dia. Ela olhou para cima, vendo que não havia nuvens de chuva, que vários pássaros cantavam e que era realmente um bom dia, respondeu à Mentira:

– Bom dia, senhora Mentira.

– Está muito quente hoje, continuou a Mentira.

E a Verdade, vendo que a Mentira era sincera, relaxou-se.

A Mentira, então, convidou a Verdade a se banhar no rio. Ela tirou a roupa, pulou na água e disse:

– Realmente, a água está deliciosa.

E, uma vez que a Verdade, sem duvidar da Mentira, tirou suas roupas e caiu no rio, a Mentira saiu da água e vestiu-se com a roupa da Verdade. Esta por sua vez, recusou-se a vestir as roupas da Mentira e, não tendo de que se envergonhar, saiu desnuda, andando pela rua.

Aos olhos das outras pessoas, no entanto, foi mais fácil aceitar a Mentira vestida de Verdade, do que a Verdade nua e crua.

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