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Quem é o prefeito?

Marcos Cardoso *

Quem gosta do clima eleitoral, do calor da competição pelos cargos em disputa, deve estranhar o desenrolar do atual pleito. Curta no tempo e nos gastos financeiros agora disponíveis por limitação da Justiça, a eleição amornou, mas ficou mais civilizada.

O que se pretende com uma eleição enxuta é justamente menos gastos, menos dinheiro circulando, menos compra de votos e de cabos eleitorais, menos corrupção. Tomara que o apurado após o 2 de outubro seja bom para a nossa cambaleante democracia.

No interior de Sergipe, há algum clima de acirramento aqui e ali. Mas nada que lembre as refregas do passado. Pelo menos por enquanto.

Estranho mesmo é o inusitado que acontece na capital, onde o grupo do atual prefeito faz um inéditopacto no curso do processo com os aliados do eventual adversário para combaterem juntos o ex-prefeito.

É natural que num pleito as críticas mais severas sejam dirigidas ao chefe do Executivo que disputa a reeleição. Afinal, quem está na administração sofre as maiores cobranças pelo que fez ou deixou de fazer.

Mas é inusitado ver o prefeito João Alves “aliar-se” ao adversário Valadares Filho para atacarem o ex-prefeito Edvaldo Nogueira. Os dois candidatos afinaram o discurso? Por que será?

Claro que tem a ver com a posição de liderança que Edvaldo emplacou desde o momento que a disputa começou para valer.

Com o portfólio de obras físicas e sociais que tem para mostrar, lembrando ao aracajuano o quanto os seus seis anos de gestão foram positivos para a cidade, em oposição à fraca gestão de João Alves e à carência absoluta de realizações do deputado Valadares, o candidato do PCdoB de repente passou a ser confundido como se ainda fosse o prefeito. E tome porrada.

Enquanto João acusa a “herança maldita” que teria recebido de Edvaldo, que o impossibilitaria de governar, e o até há pouco aliado Valadares afirma que as realizações do ex-prefeito só existem na propaganda, os pensadores das campanhas dos dois não economizam num jogo nada limpo e inundam as redes sociais comgrosserias as mais diversas.

Ora é uma voz imitando Jackson Barreto ao acordar afirmando que vai fazer no vaso sanitário o que ele e Edvaldo fazem como gestores. Ora é um filme denunciando a aliança que envolve seus principais apoiadores, Jackson e o PT, apontados como responsáveis por inúmeros escândalos. E por aí vai.

O que os detratores não estão enxergando é que Edvaldo matreiramente conquistou uma aliança inédita nesta eleição.

Em nenhuma capital a não ser Aracaju um candidato conseguiu unir em torno de si o PT e o PMDB, dois dos três principais partidos políticos do Brasil, que foram aliados nacionais até este ano e agora, com o episódio do impeachment de Dilma Rousseff, tornaram-se inimigos figadais.

Inimigos lá, não aqui, onde Edvaldo é o fiel da balança nesse equilíbrio entre forças poderosas e nada desprezíveis.

Que candidato mais ou menos ideologicamente afinado não brigaria por um apoio de tamanho peso?

Pelo que se vê na campanha até agora, o povo não se deixa levar pelo falso moralismo, não está nem aí para o desespero alheio e vai guardando sua resposta para a urna eleitoral. Quem sobreviver até o dia 2 verá.

* Marcos Cardoso é jornalista, autor de “Sempre aos Domingos: Antologia de textos jornalísticos”.

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