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A principal herança

Por Antonio Samarone *

Meu Pai completou 103 anos. Parte dele ficou em mim, como superego.

Papai não deixou nem ouro nem prata, nem mirra nem incenso. O humor foi a sua herança.

O humor é a última fonte de prazer à disposição dos idosos e desenganados. Falo do humor dirigido ao próprio Eu, aos próprios atos e atitude, sem envolver outras pessoas.

O humor que ri das próprias desgraças!

Diante de um afeto indesejado, o humor permite uma economia do sofrimento. A função do humor é reduzir os afetos decorrentes de uma realidade hostil. “O ego se recusa a ser afligido pelas provocações da realidade.” – Freud.

O humor é libertador, permite que os traumas se transformem em princípios de prazer. O humor é um talento herdado mais ou menos por cada um, mas a decisão de usá-lo ou não é de livre-arbítrio. Os portadores da compulsão pelo sofrimento, ou são desprovidos desse talento ou decidiram não usá-lo.

Na atitude humorística o superego é tolerante, permite ao ego uma atitude de criança, uma convivência harmoniosa com a ilusão e um distanciamento da realidade, produtora de emoções indesejadas.

Na atitude humorística, o superego deixa de ser um senhor severo (os antigos anjos da guarda), tornando-se um consolador do ego, protegendo-o contra os sofrimentos. O humor põe um sorriso na tristeza.

Envelhecer é um exercício de desapego.

Envelhecer é reduzir as ambições, aumentar a tolerância e preparar-se para uma morte digna. O humor é a nossa última companhia, que vai até o último suspiro. O humor é uma manifestação da misericórdia divina.

O humor é um dom raro e precioso, que herdei do meu Pai o tanto que mereço.

* É médico sanitarista

 

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