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O urubu quase virou um ilustre cidadão de Aracaju

Por Adiberto de Souza *

Segurança aposentado do Senado, o impagável Cosme Fateira foi vereador de Aracaju em pleno golpe militar. Na verdade, o distinto ficou na primeira suplência do MDB, tendo assumido o mandato com a renúncia do vereador Wilson Moura. Batizado Cosme Fonseca de Oliveira, este itabaianense boa praça ganhou o apelido na campanha eleitoral de 1966, por ter usado como bandeira política a defesa das vendedoras de vísceras bovinas do antigo mercado das carnes de Aracaju.

Cosme Fateira (D) recebendo uma homenagem do irmão Chico Cantagalo

Na Câmara Municipal continuou defendendo melhores condições de trabalho para as amigas fateiras. Para sua tristeza, a Prefeitura não lhe dava ouvidos, enquanto os colegas de parlamento só se preocupavam em conceder títulos de cidadão aos oficiais do Exército, que chegavam aos montes na capital sergipana para proteger a ditadura militar. Invocado com a mesmice do legislativo, Cosme resolveu, de uma cajadada só, criticar a sujeira da cidade, defender as amigas fateiras e protestar contra a vergonhosa bajulação aos milicos. Claro, sem chamar muito a atenção dos guardiões do golpe militar.

Para surpresa de todos, o vereador Cosme Fonseca apresentou um projeto concedendo um título de cidadão ao urubu. Na justificativa, o polêmico parlamentar dizia que se a ave não fizesse a limpeza da cidade, ninguém suportaria tanta sujeira. O ex-parlamentar jura que, até por chacota, havia clima para aprovar a homenagem ao mascote do Flamengo, porém o comando do Exército ficou sabendo a tempo de obrigar a Câmara a rejeitar o projeto do emedebista.

A rejeição não evitou a repercussão do episódio pelos jornais do Sudeste, despertando a atenção, inclusive, da imprensa internacional. Por achar que o vereador feriu as regras dos bons costumes, desmoralizando a sociedade com seu inusitado projeto, o Exército proibiu o MDB de registrar a candidatura do vereador à reeleição. Clovis, porém, sempre preferiu atribuir o impedimento de concorrer ao pleito à inveja dos colegas emedebistas, que mal saiam em notinhas na Gazeta de Sergipe, enquanto ele e seu urubu quase aracajuano ganharam um generoso espaço na americana Revista Time. Home vôte!

* É editor do site Destaquenotícias

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1 Comments

  1. Lulu Leite disse:

    Eu era amiga de Cosme e lembro muito desse seu projeto. Aracaju inteira comentou… kkkkkkkkkkkkkk

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