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Dom Pedro II na Atenas sergipana

Há registros de companhias francesas que se apresentavam em Laranjeiras

Laranjeiras vai realizar, de quinta-feira a sábado próximo, o 45º Simpósio do Encontro Cultural, que este ano tem como tema “Dois Séculos de Independência de Sergipe”. Nos três dias, palestrantes renomados vão debater o bicentenário do estado, as manifestações culturais e as diversas formas e representações.  O Encontro reunirá pesquisadores, gestores e intelectuais de vários estados brasileiros. Laranjeiras é referência pela riqueza de manifestações populares e grupos folclóricos como Reisado, Samba de Pareia, São Gonçalo, Lambe Sujo X Caboclinho,  dentre outros.

A jornalista Carla Jiménez, do jornal El Paíz, é autora do belo texto a seguir sobre a Atenas Sergipana:

Laranjeiras guarda na memória os tempos de bonança que levaram o Imperador do Brasil Dom Pedro II a visitá-la em 1850, quando o rei escolheu as cidades mais ricas do país para conhecer pessoalmente. Seguiu com a imperatriz Teresa Cristina, passeou pelas ruas da cidade, conversou com alunos das escolas, doou recursos para que os negros concluíssem a igreja que estavam construindo.  Era uma época em que o município nordestino fervilhava com uma elite intelectual que frequentava os três teatros da então vila imperial. Há registros de companhias francesas que se apresentavam ali, trazendo o melhor da bele epoque europeia.

Atenas Sergipana

A intensa atividade cultural rendeu-lhe o apelido de a Atenas Sergipana. Uma referência comum para falar de Laranjeiras era a cidade rica, culta e negra. O papel central da cultura entre as famílias abastadas fazia com que olhassem as festas folclóricas dos negros com benevolência. Eram os pobres vivendo a sua interpretação de arte. “Havia senhores de engenho que inclusive forneciam a cachaça para embalar a festa dos Lambe Sujos”, conta Evandro Bispo.

Nessa época, outras festas folclóricas nasceram e foram mantidas pela população pobre de Laranjeiras, algumas sob a influência dos colonizadores, como a Chegança, celebrada até hoje, que relembra as conquistas portuguesas do século XV, e a luta entre cristãos e mouros.

Mas, a cidade dinâmica, que prometia um futuro esplendoroso, foi atropelada pela revolução industrial, quando os barcos a vapor levaram a velocidade para o mundo. Esses navios mais sofisticados não tinham espaço para navegar no rio Cotinguiba, até então a porta de entrada fluvial de Laranjeiras. Foi o início do fim da época de ouro da cidade, que viveu um êxodo das famílias ricas, e levou junto seu desenvolvimento. Jornais do início do século XX se referiam a Laranjeiras como um “burgo podre”, segundo pesquisa da antropóloga Beatriz Dantas.

Patrimônio cultural

 Os ecos do passado, porém, alimentam seu patrimônio cultural. E a riqueza agora pode se medir de outra forma. José Ronaldo de Menezes, mais conhecido como Mestre Zé Rolinha, sintetiza bem esse novo momento. Zé Rolinha é um dos mais ilustres moradores de Laranjeiras, devoto das tradições da sua terra desde criança, e por essa dedicação ostenta o título. Ascendeu socialmente e transcendeu na vida como ator da cultura popular. É também mestre na festa da Chegança.

Ser mestre em Laranjeiras nada tem a ver com dinheiro. O valor de um líder popular é medido pelo tamanho do seu amor pela história e as suas raízes.  “Vivemos aquilo que vem dos mais velhos, do passado, no presente. Meu dever é passar aos demais a cultura brasileira”, afirma Zé Rolinha. Pela própria raiz histórica, é fácil deduzir que os Lambe Sujos cresceram à margem do poder local, sem recursos, com mais ajuda de guardiões como o Mestre Zé Rolinha ou Bispo, que conservam as histórias e seus mitos por tradição oral.

Foto: Blog Mochilinha Gaúcha

 

 

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