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O impeachment morreu na praia?

A piada que corre é que Aécio Neves teria pedido recontagem do número de participantes da manifestação de domingo, pró impeachment. A verdade é que foi um fracasso, 10% do desfile anterior em São Paulo, e os orgulhosos coxinhas se resumiram a um grupo, definido por um jornal português como o Tea Party brasileiro.

“O Brasil que veio para a rua protestar a favor do impeachment em várias cidades do país é maioritariamente branco, de classe média, acima dos 50 e revoltado – uma versão brasileira do Tea Party norte-americano”, disse o Jornal Público, observando que a comparação com o impedimento de Collor é despropositada e desproporcional, porque em 1992 havia muitos estudantes na rua, de cara pintada, exigindo a saída do presidente que fora eleito quase três anos antes.

“Não há jovens nos protestos de domingo”, atesta o jornal liberal lisboeta fundado em 1990. A manifestação que selaria o impeachment teve o efeito contrário, servindo à pilhéria de uns e à decepção de outros. Em tempos de zika vírus, virou mini-festação.

Já se fala que o Tribunal de Contas da União deve livrar Dilma da culpa pelas pedaladas fiscais. Ora, se as pedaladas seriam o último argumento exaltado pelos aecistas e michelistas, argumento que não sustenta um pedido de impeachment, em que se apegarão agora, já que não há fundamento legal constitucional para requerer tal amargo remédio?

O TCU rejeitou as contas do governo Dilma, mas não estabeleceu a responsabilidade direta pelas manobras fiscais. O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin podem, no máximo, ser multados por errarem na contabilidade.

E, não bastasse tudo isso, o bandidão Eduardo Cunha contaminou o processo, porque não se deve permitir a um magistrado tão sujo querer julgar ninguém, mesmo um julgamento político, ainda mais numa questão crucial para a nação e quando não há uma acusação formal contra a pessoa supostamente denunciada.

Essas três condicionantes, a falta do apoio popular explícito nas ruas, a carência de fundamento legal e o fato explícito de o processo, no seu nascedouro, ser presidido por uma figura nefasta como Eduardo Cunha afastam possibilidades de o impeachment ser levado a sério.

Depois de muito se debater e muito tentar, parece que o esforço morreu na praia.

Conte-se a favor do Brasil que as instituições estão funcionando. Como nunca, aliás. A Polícia Federal está prendendo — políticos, empreiteiros e banqueiros, inclusive —, o Ministério Público está denunciando, o Congresso bem ou mal está parlamentando e a Justiça está cumprido seu papel de arbitrar essa barafunda toda.

Agora mesmo, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar os ritos do processo de impeachment, decidiu que a Câmara de Eduardo Cunha volte à estaca zero nessa questão. A comissão de deputados avulsos foi derrubada e os deputados terão de fazer a eleição dos membros da comissão especial para examinar o pedido de impeachment de acordo com a proporcionalidade partidária.

Importante: a votação tem que ser aberta.

O Senado teve reconhecido o poder para arquivar o processo com votação de maioria simples. E o afastamento da presidente por 180 dias, como previsto na Constituição, só poderá ocorrer depois de aprovado no Senado por 3/5 dos senadores.

Derrota para Cunha e Temer. Para agravar o inferno astral que começam a viver, só falta agora o STF afastar do cargo o presidente da Câmara, como quer o PGR Janot, e os peemedebistas do Senado tomarem o partido do vice-presidente da República, como quer Renan Calheiros.

A política é como nuvem. E nem sempre é o melhor nadador quem sobrevive ao naufrágio.

Marcos Cardoso é jornalista, editor do Caderno Mercado do Jornal da Cidade, e autor de “Sempre aos Domingos: Antologia de textos jornalísticos.

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