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João e a renovação política

Marcos Cardoso *

O sincericídio de José Carlos Machado será o atestado do sepultamento político de João Alves Filho e do próprio ex-dileto amigo. É duro e arriscado dizer isso, porque não é a primeira vez que se vaticina sobre a morte política do engenheiro que começou e deverá terminar sua carreira de homem público na Prefeitura de Aracaju.

Em 2006, quando ainda no último mandato de governador e perdeu a reeleição para o “menino” Marcelo Déda, já se dizia que era o seu fim. Mas 2010, quando tentou voltar ao governo e Déda foi novamente vencedor no primeiro turno, a brasa da esperança voltou a acender: foi o mais votado em Aracaju. Era o sopro que conduziria o ex-prefeito biônico à eleição de 2012, quando democraticamente conquistou a capital com mais da metade dos votos.

João sempre foi muito bem votado em Aracaju. Desde a eleição de 1998, quando tentou tomar o governo de Albano Franco e perdeu, obtendo sua votação menos expressiva na capital, menor que ¼ dos votos válidos, ele só fez engrossar seu eleitorado. Eleição após eleição, seus eleitores em Aracaju se multiplicaram. A tabela confirma essa afirmação.

VOTAÇÃO DE JOÃO ALVES EM ARACAJU

ELEIÇÃO TOTAL DE VOTOS PORCENTAGEM VOTOS VÁLIDOS
1982 57.187 57,97%
1990 59.805 31,06%
1998 54.204 23,94%
2002 75.768 29,00%
2006 114.655 38,10%
2010 139.147 48,44%
2012 159.668 52,72%

Fonte: TRE

Mas ninguém em sã consciência arrisca dizer que sua performance será mantida na eleição de 2016. Ele mesmo não deve acreditar mais nisso, senão teria decidido desde logo que não abriria mão de ser candidato à reeleição. Mas passou a primeira metade do ano vacilando, fazendo sangrar a ele e a seus aliados, a ponto de Machado, vendo-se preterido, fazer o desabafo que ficou famoso.

Diga-se que ninguém duvida da veracidade da gravação bombástica. A “denúncia” tão contundente e comprometedora foi feita por ninguém mais autorizado, já que, além de vice-prefeito, era seu chegado há 40 anos, o mais próximo aliado político. Claro que Machado sabe o que está falando quando diz que os secretários só pensam em roubar e João não está nem aí para isso. Claro que tem consciência do que não está dito na comunicação antes pessoal e que se tornou pública.

E essa comunicação embutida na fala de Machado coroa um quadro de decadência que não foi pintado agora. Em 2014, sua base já havia rachado, quando o então deputado federal Mendonça Prado, ex-genro e pupilo político, resolveu que não seguiria a aventura de apoiar a candidatura do senador Eduardo Amorim ao governo. O problema era de relacionamento com o outro ex-genro, Edvan Amorim, empresário e dono de uma penca de partidos nanicos.

Agora, além de Machado, de fato preterido, os próprios Amorim debandaram para o lado dos Valadares, também abandonando o velho barco joãozista. Os vereadores da bancada do fisiologismo igualmente trataram de cair fora. Todos estão antevendo a iminência da casa cair. Já perceberam que a batalha é inútil.

Aos 75 anos, João Alves terá ainda fôlego para mais um duro embate eleitoral? E o que terá de novo para mostrar? Ninguém acreditará mais nas suas promessas depois do fiasco de uma gestão que assumiu tantos compromissos e conseguiu no máximo construir uma praça à beira mar, na 13 de Julho.

A sina do político experiente que não sabe a hora de se retirar da vida pública é um dia ser definitivamente derrotado. Em Sergipe, há bons exemplos. Leandro Maciel foi derrotado, aos 76 anos, pelo jovem médico Gilvan Rocha na eleição para o Senado em 1974. Vinte anos depois, na mesma disputa senatorial, um senil Lourival Baptista, aos 79 anos, foi derrotado pelo jovem geólogo José Eduardo Dutra.

O governador Jackson Barreto e o senador Antônio Carlos Valadares já anunciaram que não pretendem disputar o Senado em 2018. E parece que o destino de João também já está traçado: é dar lugar às jovens lideranças políticas. Principalmente àquelas que já realizaram, têm algo para mostrar, e estão com disposição para fazerem mais.

* Marcos Cardoso é jornalista, autor de “Sempre aos Domingos: Antologia de textos jornalísticos”

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